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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Espiritualidade da Quaresma.

Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba

Resultado de imagem para dom aldo pagottoNo ciclo litúrgico cristão a Quaresma corresponde aos 40 dias que antecedem à Páscoa da Ressurreição do Senhor Jesus. Entende-se tal período como realidade que acompanha toda a nossa vida, feita de purificação dos erros, deficiências, fraquezas, infidelidade, e de iluminação nos bons propósitos, na firmeza da fé, manifestada pela caridade operosa, nas várias formas de serviço fraterno e solidário ao próximo. Esse aprendizado leva-nos ao enfrentamento de duras provas, chamadas de tentações, tal como Jesus as enfrentou. Os evangelistas Mateus (4, 1ss) e Lucas (4, 1ss) descrevem o contexto das tentações de Jesus, enquanto Marcos coloca em três capítulos (Mc. 1,2,3) acirrado confronto entre Jesus, cuja atitude fundamental liberta as pessoas das estranhas manifestações do mal.
As tentações de Jesus são as mesmas que nós sofremos em nossa natureza humana e no nosso espírito, atraídos por ilusões, orgulho, tendências, destemperos, desequilíbrios, visões distorcidas, presunções, desejos inconfessáveis, vaidades, falsos valores, etc. Jesus foi conduzido pelo Espírito para ser provado, vencendo toda tentação! Todos nós somos tentados em Adão ou em Cristo. Entendamos: em nossa natureza humana, em Adão, sofremos constantemente a concupiscência, resultante do pecado, inato em nós. A soberba vaidosa e a tendência aos excessos da sensualidade induzem-nos a erros graves, cujas consequências são incontroláveis, dificilmente contornáveis. Somos tentados em Cristo, isto é, em nosso espírito iluminado pelos dons divinos: fé, esperança, caridade.
A tentação é conhecer o amor de Deus, porém domesticá-lo e nos fechar aos outros. Daí a contradição entre conhecer o bem, querer o bem, porém praticar o mal que não queremos. Buscamos a nós mesmos, evitamos partilhar o que somos e o que temos. Conhecemos teorias sobre os valores humanos e cristãos, porém nos omitimos em sua prática concreta. Tiramos o corpo fora, deixamos de colaborar pela inclusão e pelo desenvolvimento das pessoas, das famílias, de povos inteiros. Somos capazes de elaborar leis impecáveis, na teoria. Entanto, na prática, somos capazes de distorcê-las, de interpretá-las ao sabor dos interesses escusos, até de subornar, excluir, caluniar, e, por fim, destruir a vida dos outros.
Como vencer a tentação? O Evangelho apresenta-nos Jesus conduzido pelo Espírito para vencer toda tentação. Ele revelará toda a verdade (Jo 14, 20 ss). Entreguemos nossa vida em suas mãos, deixando-nos conduzir, passando por provas, exercitando-nos no desapego a nós mesmos, abrindo-nos aos outros, servindo-os.

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