O Sínodo dos Bispos concluiu no passado fim de semana, nos dias 24 e
25 de outubro, os seus trabalhos sobre “a vocação e a missão da Família
na Igreja e no mundo contemporâneo”. Recordamos neste “Sal da Terra, Luz
do Mundo” o essencial da informação produzida e publicada nesses dias.
Esta foi a última semana do Sínodo sobre a Família. Os derradeiros
momentos desta importante reunião dos bispos foram vividos no Vaticano
em busca de caminhos pastorais para afirmar a vocação e a missão da
família na Igreja e no mundo contemporâneo.
Relatório Final: consenso e discernimento espiritual
No sábado dia 24 foi votado e publicado o Relatório Final do Sínodo
dos Bispos sobre a Família, um documento de 94 pontos que, após 2 anos
de intenso debate e participação das comunidades, teve todos os pontos
aprovados com maioria qualificada. Em particular, os parágrafos
dedicados às situações familiares difíceis foram aprovados no limite dos
dois terços dos votos expressos.
No número 84 os padres sinodais propõem uma maior integração dos
divorciados recasados nas comunidades cristãs, sublinhando que a sua
participação pode ser ao nível dos diversos serviços eclesiais. A esta
situação específica dos casais em segunda união o número 86 do relatório
final faz referência a um percurso de acompanhamento e de discernimento
espiritual com um sacerdote.
Luz na escuridão do mundo – é assim que o Relatório Final do Sínodo
define a família, num texto que se apresenta com uma atitude positiva e
acolhedora, onde é reafirmada a doutrina da indissolubilidade
matrimonial. Contudo, para as situações de maior complexidade familiar é
recomendado o discernimentos dos Pastores e uma análise em que a
‘misericórdia’ não seja negada a ninguém.
Valorização da mulher, acolhimento de pessoas homossexuais, tutela
das crianças, defesa da vida, idosos, pessoas com necessidade especiais,
preparação para o matrimônio e acompanhamento dos casais e famílias são
alguns dos temas abordados pelo Relatório Final do Sínodo dos Bispos
sobre a Família.
Para um primeiro comentário a este Relatório do Sínodo ouvimos a
opinião de Antônio Marujo jornalista português, especialista em assuntos
religiosos, um dos principais animadores do blogue ‘Religionline’ e
presente em Roma em serviço para o jornal ‘Diário de Notícias’ que
referiu que se abre agora um caminho a percorrer com o Povo de Deus.
O caminho a percorrer com o Povo de Deus no âmbito da família tem
agora um impulso maior para a procura de caminhos de reconciliação,
exame de consciência e, como nos propõe a linguagem sinodal: caminhos de
“discernimento espiritual”.
Em declarações à Agência Ecclesia o Cardeal Raymundo Damasceno de
Assis, arcebispo da Aparecida no Brasil e presidente delegado deste
Sínodo sobre a Família, falou sobre a importância do “discernimento
espiritual” afirmando mesmo que esse “caminho de discernimento” proposto
aos divorciados recasados poderá levar, em casos pontuais, à admissão
dos mesmos à Confissão e à Comunhão.
Mensagem do Papa: para continuar a “caminhar juntos”
Entretanto, importante momento deste final de Sínodo foi a
intervenção do Papa Francisco com uma mensagem em que realçou a
importância de defender o homem e não as ideias, defender o espírito e
não a letra da doutrina.
Após os vários agradecimentos a todos os que contribuíram para um
percurso sinodal de intenso ritmo de trabalho o Papa Francisco disse
ter-se interrogado sobre o que “há-de significar, para a Igreja,
encerrar este Sínodo dedicado à família?”
Muitas as respostas encontradas pelo Santo Padre para completar o
significado do Sínodo: a importância do matrimônio, escutar as vozes das
famílias e dos pastores, olhar e ler a realidade, testemunhar o
Evangelho como fonte viva de novidade eterna, afirmar a Igreja como
sendo dos pobres e dos pecadores e abrir horizontes para difundir a
liberdade dos Filhos de Deus.
Em particular, o Papa Francisco considerou que a experiência do
Sínodo fez compreender melhor que defender a doutrina é defender o seu
espírito e o homem em vez de ideias:
“A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os
verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o
espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade
do amor de Deus e do seu perdão.”
Francisco recordou Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI e no final do
seu intenso discurso afirmou que “para a Igreja, encerrar o Sínodo
significa voltar realmente a «caminhar juntos» para levar a toda a parte
do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a luz do
Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!”
Caminhar juntos para discernir é a fase seguinte de um processo
pós-sinodal que procura lançar uma nova abordagem pastoral para as
famílias, o jornalista Antônio Marujo, aponta dois temas que necessitam
de uma ação concreta da Igreja: a violência doméstica e o
acompanhamento pastoral dos casais.