O texto apresentado, pelo relator-geral
do Sínodo, cardeal Peter Erdö, na 1ª Congregação Geral, na
segunda-feira, 5, está dividido em três partes: desafios, vocação e
missão da família. Durante a exposição, o cardeal húngaro indicou a
necessidade de acompanhamento misericordioso para quem vive situações
familiares difíceis, mas sem deixar dúvidas quando à indissolubilidade
do matrimônio.
De acordo com o cardeal Erdö, os
desafios para a família são muitos, entre eles, as migrações, injustiças
sociais, salários baixos, violência contra as mulheres. Por outro lado,
disse que o crescente individualismo leva a confundir os confins de
instituições fundamentais como o matrimônio e a família, enquanto a
sociedade consumista separa sexualidade e procriação, tornando a vida
humana e a genitorialidade “realidades componíveis e decomponíveis”.
Expectativas
Em entrevista à Rádio Vaticano, o
arcebispo de Aparecida (SP) e presidente-delegado do Sínodo dos Bispos,
explicou o roteiro de trabalho da Assembleia Ordinária.
“Nesta segunda etapa, a conclusiva,
votaremos um documento final que será entregue ao Santo Padre. E
dependerá dele o desejo de fazer uso deste documento para publicar uma
Exortação pós-sinodal ou não. Cabe ao Santo Padre esta decisão.
Esperamos continuar aprofundando os desafios, mas procurando dar uma
resposta. Primeiro, analisando esses desafios à luz da palavra de Deus,
portanto procurando descobrir a missão da família. Depois, procurar
mostrar também o caminho da família no mundo de hoje, que é de ser
missionária, uma pequena Igreja doméstica, uma Igreja que não se fecha
em si mesma, mas que se abre para evangelizar outras famílias, levar a
Boa Nova do Evangelho a outras pessoas”, disse o cardeal brasileiro.
Indissolubilidade do matrimônio
O relatório introdutório, apresentado
pelo cardeal Erdö, ressalta aspectos positivos sobre o matrimônio e a
família, que segundo o texto, não deixam os indivíduos isolados, mas
transmitem valores e “oferecem uma possibilidade de desenvolvimento à
pessoa humana” insubstituível. E é justamente do matrimônio indissolúvel
que deriva a vocação familiar, indissolubilidade que não é um jogo, mas
um dom”, explica a segunda parte do documento.
O cardeal Erdö reiterou, ainda, “a
importância da promoção da dignidade do matrimônio e da família”,
enquanto “comunidade de vida e amor, Igreja doméstica baseada no
matrimônio sacramental entre dois cristãos, princípio de vida na
sociedade”.
Vocação família
A terceira parte do documento explica a
missão da família hoje. O texto fala da importância da formação seja
para os esposos – para que o matrimônio não seja somente um fato
exterior e emocional, mas também espiritual e eclesial – seja para o
clero, para que acompanhe as famílias com “um amadurecimento afetivo e
psicológico”.
Ainda, o relatório explica que outra
missão das famílias cristãs é colaborar com instituições públicas e
criar estruturas econômicas de apoio para ajudar os núcleos que vivem
situações de pobreza, desemprego e falta de assistência social e médica.
“Toda a comunidade eclesial deve tentar assistir às famílias vítimas de
guerras e perseguições”.
Misericórdia e acolhimento
O texto retoma a missão “delicada e
exigente” da Igreja com as famílias feridas. De acordo com o relatório, o
método deve ser o da misericórdia e do acolhimento, acompanhado, porém,
da apresentação clara da verdade sobre o matrimônio. “A maior
misericórdia é dizer a verdade com amor. Deve-se ir além da compaixão,
porque o amor misericordioso atrai e une, transforma e eleva e convida à
conversão”, disse o cardeal.
Referente aos divorciados recasados que
praticam continência, “poderão aceder também aos sacramentos da
Penitência e da Eucaristia, evitando, porém, de provocar escândalo”.
Outro parágrafo é dedicado ao cuidado
pastoral das pessoas homossexuais. O Relatório retoma as reflexões da
Assembleia Extraordinária, constando que os homossexuais devem ser
acolhidos “com respeito e delicadeza”, evitando qualquer sinal de
discriminação injusta. O texto recorda, porém, que “não há fundamento
algum para assimilar ou estabelecer analogias, sequer remotas, entre as
uniões homossexuais e o plano de Deus para o matrimônio e a família”,
pontuou o cardeal Erdö.
“É totalmente inaceitável que os
Pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos
internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres para a
introdução de leis que estabeleçam o ‘matrimônio’ entre pessoas do
mesmo sexo”, disse o relator.
Vida inviolável
Reflexões sobre a concepção, morte
natural, aborto e eutanásia são tratados no Relatório introdutório. O
texto reafirma o carácter da inviolabilidade desde a concepção até a
morte natural. “Não, portanto, ao aborto, à terapia agressiva, à
eutanásia, e sim à abertura à vida como uma exigência intrínseca do amor
conjugal”.
O cardeal Erdö lembrou,
também, o trabalho da Igreja no apoio às mulheres grávidas, às crianças
abandonadas, a quem abortou, às famílias impossibilitadas de curar os
seus entes queridos doentes. “A Igreja faz sentir a sua presença,
compensando as deficiências do Estado e oferecendo um apoio humano e
espiritual ao trabalho de assistência, e estes são valores que não podem
ser quantificados com o dinheiro”, disse.
Recomenda-se, portanto, “promover a
cultura da vida diante da cada vez mais difundida cultura de morte”, e
sugere “um ensino adequado sobre métodos naturais para a procriação
responsável”.
Ao final, o relatório ressalta, no
âmbito da educação, que “os pais são e permanecem os principais
responsáveis pela educação humana e religiosa dos seus filhos” e que
cabe à Igreja encorajá-los e apoiá-los “na participação vigilante e
responsável” aos programas escolares e educacionais dos filhos. O
cardeal disse, ainda, que o texto introdutório exorta a Igreja a
“converter-se e tornar-se mais viva, mais pessoal, mais comunitária”,
testemunha da “maior misericórdia” de Deus.
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