O relatório final da 14ª Assembleia
Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família foi aprovado no sábado,
24 de outubro. O texto é composto por 94 parágrafos e pode ser lido na
versão final em italiano.Durante quase vinte dias reunidos, os padres
sinodais refletiram sobre "A vocação e a missão da família na Igreja e
no mundo contemporâneo". O sacerdote, padre Rafael Fornasier, explica
que o texto ainda não é normativo, sendo necessário "redobrar a
prudência no que concerne as interpretações do texto publicado".
Confira a íntegra da reflexão:
O Relatório Final do Sínodo sobre a família já é um documento de orientação para toda a Igreja?
No que concerne a situação de alguns de
nossos irmãos e irmãs divorciados recasados, com quem caminhamos e
conversamos pelo Brasil afora, é necessário redobrar a prudência no que
concerne as interpretações do texto publicado, pois o texto sequer
menciona o acesso à Eucaristia e ao Sacramento da Confissão
O Papa Francisco, em seu discurso de
conclusão do Sínodo dos Bispos sobre "A vocação e a missão da família na
Igreja e no mundo contemporâneo" afirmou que "certamente não significa
que esgotamos todos os temas inerentes à família" e que não "encontramos
soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e
ameaçam a família" na atualidade, mas que, com coragem, dedicação e sem
medo de afrontar os desafios postos às famílias e na família,
"procuramos iluminá-los com a luz do Evangelho, da tradição e da
história bimilenária da Igreja, infundindo neles a alegria da
esperança", sem cair em repetições simplistas.
Com efeito, o Relatório Final do Sínodo
foi entregue ao Papa Francisco, como reza o Artigo 41 do Regulamento do
Sínodo dos Bispos (Ordo Synodi Episcoporum). Segundo as explicações do
próprio regulamento, não há uma regra estabelecida de antemão sobre a
elaboração de um documento final do Sínodo. Fato é que, após várias
assembleias sinodais, os últimos papas publicaram um documento retomando
ou levando em conta o fruto do trabalho do Sínodo. Haja vista que os
bispos, ao entregar o Relatório Final da assembleia, fizeram um pedido
ao papa para que ele publicasse um documento, é de se esperar que isso
aconteça nos próximos meses.
Assim sendo, o texto que foi publicado
no fim de semana passado não é um documento normativo nem definitivo.
Virá a sê-lo se o papa assim o quiser. Mas poderá também passar por
modificações por parte do papa. Por isso, é temerário já agora tirar
orientações bem precisas em nível prático para a ação pastoral da
Igreja, embora não nos seja impedido de começar – ou continuar – a
refletir sobre isso.
No que concerne a situação de alguns de
nossos irmãos e irmãs divorciados recasados, com quem caminhamos e
conversamos pelo Brasil afora, é necessário redobrar a prudência no que
concerne as interpretações do texto publicado, pois o texto sequer
menciona o acesso à Eucaristia e ao Sacramento da Confissão.
O título no qual se aborda o assunto
fala de "discernimento e integração", deixando, propositadamente, a
questão aberta e a ser cada vez mais discernida, com misericórdia e
verdade, não só pelas pessoas implicadas, mas também por toda comunidade
eclesial, inclusive levando em conta aspectos culturais, como também
mencionado pelo Papa Francisco no seu discurso final. A respeito do
acesso à Eucaristia, alguns comentários observaram que o texto não diz
nem que "sim" nem que "não". Isso também é válido para aquelas formas de
impedimentos hoje existentes na prática eclesial. Tal responta obliqua e
não direta do texto faz-nos voltar ao que o papa disse no discurso
final, ou seja, de que o sínodo não ofereceu soluções exaustivas a todas
as situações complexas, pois estas são múltiplas e variadas. Anunciar
aos quatro cantos um acesso ao Sacramento da Eucaristia para todos os
que se encontram nesta situação, não somente vai além do que afirma o
texto conclusivo do sínodo – repitamo-lo: ainda não normativo nem
definitivo – mas também não respeita a complexidade da história de vidas
envolvidas num divórcio e suas consequências temporais, que, quer se
queira ou não, toca a noção de comunhão no sentido mais amplo (comunhão
eclesial, eucarística, mas também conjugal e familiar), que pode ter
sido, em certos casos, gravemente rompida.
Ainda que o Papa Francisco venha a
decidir sobre essa questão, a proposta, segundo as sugestões dos bispos
representares de todas as partes do mundo, não será a panaceia para dar
fim aos problemas dos divorciados recasados, mas será aplicada caso a
caso, como sugerido pelo Cardeal W. Kasper desde o início dessa
discussão – o que não deixará de suscitar dificuldades e incompreensões
em nossas comunidades, diga-se de passagem...
Deixando de lado todas essas
especulações – que interessam muito aos meios de comunicação
desinteressados da vida real das pessoas! – o importante é não reduzir
toda a riqueza dos trabalhos do sínodo nestes dois últimos anos ao "pode
ou não pode", pois o acompanhamento que visa não só a integração de
diversas situações, mas também a preparação ao matrimônio, através da
transmissão do Evangelho da família, a vida pós-matrimonial, a
transmissão e educação dos filhos, a formação para a missão eclesial e
social da família, requer conversão pastoral e pessoal, de todos nós,
disponibilidade de tempo para a escuta e o serviço, coragem e ousadia
para intervir, também com misericórdia, junto às famílias quando são
assoladas por mentiras em relação à essência do amor, da liberdade, da
fidelidade, da responsabilidade, da abertura à vida para se tentar
evitar e superar as crises, e assim permitir que a família continue
sendo o maior tesouro da humanidade!
CNPF com Zenit.
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