“Ela propõe cada ano uma motivação
comunitária para a conversão e a mudança de vida”, escreveu o papa
Francisco, em mensagem por ocasião da abertura oficial da Campanha da
Fraternidade Ecumênica (CFE) 2016. Durante evento realizado na
Quarta-feira de Cinzas, 10, na sede da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), foi lido o texto enviado pelo Vaticano.
Na mensagem, Francisco recorda que esta é
a quarta vez que a CF é promovida com as Igrejas que fazem parte do
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Lembra, ainda, que
a Campanha cruza fronteiras, pois é feita em conjunto com a Misereor,
entidade episcopal da Igreja Católica na Alemanha que trabalha na
cooperação para o desenvolvimento de países da Ásia, da África e na
América Latina.
O papa destaca que a Campanha da
Fraternidade deste ano trata de uma temática importante para a vida do
planeta. “O objetivo principal deste ano é o de contribuir para que seja
assegurado o direito essencial de todos ao saneamento básico. Para
tanto, apela a todas as pessoas convidando-as a se empenharem com
políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o
futuro de nossa Casa Comum”, disse o papa.
Ainda no texto, Francisco convida a
todos para a vivência da Quaresma, a partir de ações concretas de
cuidado com o meio ambiente. “Eu os convido, principalmente durante esta
Quaresma, motivados pela Campanha da Fraternidade Ecumênica, a
redescobrir como nossa espiritualidade se aprofunda quando superamos ‘a
tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do
Senhor’ e descobrimos que Jesus quer ‘que toquemos a carne sofredora dos
outros’, dedicando-nos ao ‘cuidado generoso e cheio de ternura’ de
nossos irmãos e irmãs e de toda a criação”.
Confira a íntegra da mensagem:
Mensagem do Papa Francisco por ocasião da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Em sua grande misericórdia, Deus não se
cansa de nos oferecer sua bênção e sua graça e de nos chamar à conversão
e ao crescimento na fé. No Brasil, desde 1963, se realiza durante a
Quaresma a Campanha da Fraternidade. Ela propõe cada ano uma motivação
comunitária para a conversão e a mudança de vida. Em 2016, a Campanha da
Fraternidade trata do saneamento básico. Ela tem como tema: “Casa
comum, nossa responsabilidade”. Seu lema bíblico é tomado do Profeta
Amós: “Quero ver o direito brotar como fonte e a justiça qual riacho que
não seca”. (Am 5, 24).
É a quarta vez que a Campanha da
Fraternidade se realiza com as Igrejas que fazem parte do Conselho
Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Mas, desta vez, ela
cruza fronteiras: é feita em conjunto com a Misereor, iniciativa dos
católicos alemães que realiza a Campanha da Quaresma desde 1958. O
objetivo principal deste ano é o de contribuir para que seja assegurado o
direito essencial de todos ao saneamento básico. Para tanto, apela a
todas as pessoas convidando-as a se empenharem com políticas públicas e
atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa
Casa Comum.
Todos nós temos responsabilidade por
nossa Casa Comum, ela envolve os governantes e toda a sociedade. Por
meio desta Campanha da Fraternidade, as pessoas e comunidades são
convidadas a se mobilizar, a partir dos locais em que vivem. São
chamadas a tomar iniciativas em que se unam as Igrejas e as diversas
expressões religiosas e todas as pessoas de boa vontade na promoção da
justiça e do direito ao saneamento básico. O acesso à água potável e ao
esgotamento sanitário é condição necessária para a superação da
injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a
superação dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças
evitáveis, e para a sustentabilidade ambiental.
Na encíclica Laudato Si´, recordei que
“o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial,
fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e,
portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”
(n.30) e que a grave dívida social para com os pobres é parcialmente
saldada quando se desenvolvem programas para prover de água limpa e
saneamento as populações mais pobres (cf. ibid.) E, numa perspectiva de
ecologia integral, procurarei evidenciar o nexo que há entre a
degradação ambiental e a degradação humana e social, alertando que “a
deterioração do meio ambiente e da sociedade afetam de modo especial os
mais frágeis do planeta” (n. 48).
Aprofundemos a cultura ecológica. Ela
não pode se limitar a respostas parciais, como se os problemas
estivessem isolados. Ela “deveria ser um olhar diferente, um pensamento,
uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma
espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma
tecnocrático” (Laudato Si´, n. 111). Queridos irmãos e irmãs, insisto
que o rico patrimônio da espiritualidade cristã pode dar uma magnífica
contribuição para o esforço de renovar a humanidade. Eu os convido,
principalmente durante esta Quaresma, motivados pela Campanha da
Fraternidade Ecumênica, a redescobrir como nossa espiritualidade se
aprofunda quando superamos “a tentação de ser cristãos, mantendo uma
prudente distância das chagas do Senhor” e descobrimos que Jesus quer
“que toquemos a carne sofredora dos outros” (Evangelii Gaudium, n. 270),
dedicando-nos ao “cuidado generoso e cheio de ternura” (Laudato Si´, n.
220) de nossos irmãos e irmãs e de toda a criação.
Eu me uno a todos os cristãos do Brasil e
os que, na Alemanha, se envolvem nessa Campanha da Fraternidade
Ecumênica, pedindo a Deus: “ensinai-nos a descobrir o valor de cada
coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente
unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz
infinita. Obrigado porque estais conosco todos os dias. Sustentai-nos,
por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e paz (Laudato Si´, n.
246). Aproveito a ocasião para enviar a todos minhas cordiais saudações
com votos de todo bem em Jesus Cristo, único Salvador da humanidade e
pedindo que, por favor, não deixem de rezar por mim.
Papa Francisco
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