Se quisermos
compreender a «história da nossa redenção» devemos olhar para o crucificado. A
homilia do Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta na
terça-feira 15 de março versou sobre o «mistério» do sofrimento e morte de Jesus que se «fez pecado» pela
salvação do homem.
No centro da reflexão
do Pontífice, seguindo a liturgia do dia, esteve a imagem da serpente,
portadora de uma «mensagem».
A serpente, disse o
Papa, «é o primeiro animal mencionado no livro do Gênesis», e é recordado como
«o mais astuto». A serpente volta, e é o trecho evocado pela primeira leitura,
no livro dos Números (21, 4-9) quando se narra o modo como no deserto o povo
murmurava contra Deus e contra Moisés: «O Senhor enviou serpentes ardentes
entre o povo. Elas morderam as pessoas e um grande número de israelitas
morreu». Então o povo arrependeu-se, pediu perdão e Deus ordenou a Moisés: «Faz
para ti uma serpente ardente e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for
mordido, olhando para ela, será salvo». O Pontífice comentou: «É misterioso: o
Senhor não faz morrer as serpentes, poupa-as.
Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de
bronze, conservava a vida». Portanto, a serpente fora elevada para obter a
salvação. Neste ponto, seguindo ainda o desenvolvimento da liturgia do dia,
Francisco retomou o trecho do evangelho de João (8, 21-30) no qual Jesus, ao
debater com os doutores da lei «lhes
fala claramente: “se não crerdes o que eu sou, morrereis no vosso
pecado. Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem
sou”».
«Eu Sou!», explicou,
«é o nome de Deus; quando Moisés pergunta ao Senhor: “Se o povo me perguntar,
mas quem te manda? Quem te manda, a ti, a libertar-nos? Qual é o nome? “Eu
Sou!”». Portanto: «Elevar o Filho do homem! Como uma serpente...».
O mesmo conceito foi
confirmado por Jesus num trecho «dois capítulos antes», quando ele «diz aos
doutores da lei: “Como Moisés elevou a serpente no deserto, assim é preciso que
o Filho do homem seja elevado, para que quem acreditar nele seja salvo».
A serpente, disse o Pontífice concluindo o raciocínio, é
«símbolo do pecado; a serpente que mata, mas há uma serpente que salva. E este
é o mistério de Cristo».
Também são Paulo, recordou
o Papa, «falando sobre este mistério, disse que Jesus se esvaziou a si mesmo,
humilhou-se a si mesmo, aniquilou-se
para nos salvar». Aliás, o apóstolo sugere uma expressão ainda mais
forte: «Fez-se pecado». Então, se quisermos usar o símbolo bíblico, poderíamos
dizer: Fez-se serpente». E é esta, disse Francisco, «a mensagem profética
destas leituras de hoje. O Filho do homem,
como uma serpente, “que se fez pecado”, foi elevado para nos salvar».
Por conseguinte,
devemos «olhar para o Crucificado e
refletir precisamente sobre este
mistério: um Deus “esvaziado da sua divindade?
– totalmente! – para
nos salvar». Mas, acrescentou o Pontífice, «quem é esta serpente que Jesus
assume sobre si para a vencer?»: a resposta lê-se no Apocalipse de João, onde
se encontra o nome – aliás, observou o Papa, a serpente na Bíblia «foi o primeiro animal a ser nomeado e talvez o último»
– lê-se que «foi derrotada a
serpente antiga: Satanás». Portanto, o pecado – disse o Papa – é «a obra de
Satanás e Jesus vence Satanás “fazendo-se pecado”». Assim na cruz ele
«eleva todos nós». Por isso «o Crucifixo
não é um ornamento, nem uma obra de arte cheia de pedras preciosas, como se
veem: o Crucificado é um mistério do “aniquilamento” de Deus, por amor».
A serpente, explicou
o Pontífice, «profetiza a salvação no deserto»: com efeito, foi «elevada e quem
olhava para ela, ficava curada». Mas
esta salvação, frisou, não foi realizada «com a varinha mágica por um deus que
faz coisas»; mas foi realizada «com o sofrimento do Filho do homem, com o
sofrimento de Jesus Cristo». Um sofrimento tão grande que levou Jesus a pedir
ao Pai: «Pai, por favor, se for possível afasta de mim este cálice». Vê-se
nisto «a angústia», acompanhada contudo pela expressão: «Mas seja feita a tua
vontade».
É esta, concluiu o
Papa, «a história da nossa redenção», «a história do amor de Deus». Por isso,
«se quisermos conhecer o amor de Deus, olhemos para o Crucificado». Nele
encontramos «um homem torturado, morto, que é Deus “esvaziado da divindade”,
manchado, “que se fez pecado”». Eis a oração final: «Que o Senhor nos
conceda a graça de compreender melhor
este mistério».
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