Na
catequese da quarta-feira, 24 de junho, o papa Francisco prosseguiu
sobre as reflexões "sobre as feridas que se abrem justamente dentro da
convivência familiar". O pontífice recordou da unidade necessária para
que o matrimônio gere bons frutos, como o cuidado na criação dos filhos
no amor. "Na família, tudo é interligado: quando a sua alma é ferida em
qualquer ponto, a infecção contagia todos", disse Francisco.
Ao final da mensagem lembrou: "Não
faltam, graças a Deus, aqueles que, apoiados pela fé e pelo amor pelos
filhos, testemunham a sua fidelidade a um laço no qual acreditaram, por
mais que pareça impossível fazê-lo reviver".
Confira a íntegra da catequese:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas catequeses falei da família
que vive as fragilidades da condição humana, a pobreza, a doença, a
morte. Hoje, em vez disso, refletimos sobre as feridas que se abrem
justamente dentro da convivência familiar. Quando, isso é, na própria
família se faz mal. A pior coisa!
Sabemos bem que em nenhuma história
familiar faltam os momentos em que a intimidade dos afetos mais queridos
é ofendida pelo comportamento dos seus membros. Palavras e ações (e
omissões!) que, em vez de exprimir amor, corroem-no ou, pior,
mortificam-no. Quando estas feridas, que ainda são remediáveis, são
negligenciadas, elas se agravam: transformam-se em prepotência,
hostilidade, desprezo. E naquele ponto podem se tornar lacerações
profundas, que dividem marido e mulher e induzem a procurar compreensão,
apoio e consolação em outro lugar. Mas muitas vezes esses "apoios" não
pensam no bem da família!
O esvaziamento do amor conjugal difunde ressentimento nas relações. E muitas vezes a desagregação recai sobre os filhos.
Bem, os filhos. Gostaria de me concentrar um pouco sobre este ponto.
Apesar da nossa sensibilidade aparentemente evoluída, e todas as nossas
refinadas análises psicológicas, pergunto-me se nós não estamos
anestesiados também a respeito das feridas da alma das crianças. Quanto
mais se procura compensar com presentes e lanches, mais se perde o
sentido das feridas – mais dolorosas e profundas – da alma. Falamos
muito de distúrbios comportamentais, de saúde psíquica, de bem-estar da
criança, de ansiedade de pais e filhos... Mas sabemos ainda o que é uma
ferida da alma?
Sentimos o peso da montanha que esmaga a alma de uma criança, nas
famílias em que se trata mal e se fala mal, até o ponto de despedaçar o
laço da fidelidade conjugal? Que peso há nas nossas escolhas – escolhas
erradas, por exemplo – quanto peso tem a alma das crianças? Quando os
adultos perdem a cabeça, quando cada um pensa apenas em si mesmo, quando
o pai e a mãe se agridem, a alma dos filhos sofre imensamente, prova um
desespero. E são feridas que deixam a marca para toda a vida.
Na família, tudo é interligado: quando a sua alma é ferida em
qualquer ponto, a infecção contagia todos. E quando um homem e uma
mulher, que se empenharam em ser "uma só carne" e em formar uma família,
pensam obsessivamente nas próprias exigências de liberdade e de
gratificação, esta distorção afeta profundamente o coração e a vida dos
filhos. Tantas vezes as crianças se escondem para chorar sozinhas...
Devemos entender bem isso. Marido e mulher são uma só carne. Mas suas
criaturas são carne de sua carne. Se pensamos na dureza com que Jesus
adverte os adultos a não escandalizar os pequenos – ouvimos na passagem
do Evangelho (cfr Mt 18,6) – , podemos compreender melhor também a sua
palavra sobre a grave responsabilidade de proteger o laço conjugal que
dá início à família humana (cfr Mt 19, 6-9). Quando o homem e a mulher
se tornam uma só carne, todas as feridas e todos os abandonos do pai e
da mãe incidem na carne viva dos filhos.
É verdade, por outro lado, que há casos em que a separação é
inevitável. Às vezes pode se tornar até mesmo moralmente necessária,
quando se trata de salvar o cônjuge mais frágil, ou os filhos pequenos,
de feridas mais graves causadas pela prepotência e pela violência, das
humilhações e da exploração, da indiferença.
Não faltam, graças a Deus, aqueles que, apoiados pela fé e pelo amor
pelos filhos, testemunham a sua fidelidade a um laço no qual
acreditaram, por mais que pareça impossível fazê-lo reviver. Não todos
os separados, porém, sentem esta vocação. Nem todos reconhecem, na
solidão, um apelo do Senhor dirigido a eles. Em torno de nós encontramos
diversas famílias em situações consideradas irregulares – não gosto
dessa palavra – e nos colocamos muitas interrogações. Como ajudá-las?
Como acompanhá-las? Como acompanhá-las para que as crianças não se
tornem reféns do pai ou da mãe?
Peçamos ao Senhor uma fé grande, para olhar a realidade com o olhar
de Deus; e uma grande caridade, para abordar as pessoas com o seu
coração misericordioso.
Fonte: Boletim da Santa Sé - Tradução: Jéssica Marçal - Canção Nova
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