Diante de tantas ofertas do mundo cada
vez mais tecnológico, como é possível não deixar de lado a convivência
em família? Na opinião de LUCI LÉA LOPES MARTINS TESORO é preciso fugir
da síndrome da acomodação que tem invadido as casas.
A família é a menor célula da sociedade,
na mesma medida ela representa um ecossistema natural para a defesa da
vida humana e da liberdade. A família cumpre com sua missão quando
transmite convicções e valores; educa nas virtudes; ensina a pensar, a
lutar, a amar, a falar com Deus, e a se defender das influências e
agressões externas.
Contudo, hoje, a grande questão, o
grande desafio para as famílias é tentar sobreviver aos conflitos
gerados pelo arsenal de contra valores que enaltecem o descompromisso
com o outro, a valorização do individualismo, do dinheiro e do prazer
acima de qualquer coisa, o sensacionalismo barato do sexo explícito, o
vale tudo "do quem pode mais chora menos".
O fato é que a "cultura de morte",
presente na sociedade moderna, tem lutado ferozmente por reduzir a
família a uma simples fachada, a uma espécie de residência de indivíduos
autônomos, unidos por vagos sentimentos de afeto ou por uma geladeira
farta.
Assim nasceu a família light: uma
instituição própria dos países ricos, mas que os países pobres e em
desenvolvimento, tendem a imitar.
Características da família "light":
segundo Enrique Monastério (1996: Pensar por Libre/ Espanha), a família
light costuma ser pequena e gira em torno de aparelhos
eletro-eletrônicos fundamentais: a televisão (com vídeo/DVD, jogos), o
walkman, o aparelho de som, o computador ligado à Internet, etc. - tais
aparelhos produzem um delicioso efeito isolador na medida em que cortam
toda relação com os demais e desenvolvem um avassalador poder hipnótico.
Na família light a vida espiritual de
cada um de seus membros é uma questão tão íntima e profunda, que, para
encontrá-la, se necessitaria do trabalho de uma retro-escavadeira. Ali, a
entrega a Deus é considerada como uma neurose, apenas tolerável nas
famílias dos demais.
Na família light se fala muito de sexo: o
pudor está superado por completo, e todos têm uma exaustiva informação
sexual, regrada ao erotismo de filmes pornográficos, sites
especializados e sexshops de plantão. Entretanto, jamais se fala a sério
de amor, de fecundidade, de fidelidade, de entrega... À família light
só interessa o sexo light.
"Na família light tudo é trivial, salvo o
trivial. Tudo é opinável, salvo o princípio da opinabilidade universal.
Ninguém tem convicções nem crenças, mas opiniões".
Transtornos: as famílias light também
têm suas tragédias, amarguras e desgostos. Eis alguns exemplos: o
fracasso escolar do filho e a culpa, obviamente, é sempre do colégio,
que produziu traumas na autovalorização do jovem desajustado. A garota
mimada engordou e não tem o que colocar para a festa de aniversário da
amiga. Deram um arranhão na lataria do automóvel do papai, e não se fala
de outra coisa em três dias. E se o garoto chegar em casa ao amanhecer
fedendo a bebida ? Então, sim, o pai de família light toma uma decisão
firme e diz preocupado: "qualquer dia desses tenho que falar seriamente
com meu filho". Mas, é só!
Em resumo, "as famílias light padecem de
uma síndrome de imunodeficiência moral de difícil tratamento e mau
prognóstico, já que se vêem expostos a todas as infecções ideológicas de
moda". Não lhes preocupa assuntos profundos, e são particularmente
egoístas para pensar no outro. O único que lhes importa é a boa saúde e o
conforto material, como que para conservar pelos séculos dos séculos o
fresco esplendor dos antigos filmes "hollywoodianos".
Atitude: chega de acomodação. Que
ninguém se acostume à tristeza do amor light e do egoísmo. Que os pais
queiram reagir, e reajam. Que se reconstrua a camada de ozônio dos lares
poluídos e maltratados pelos maus hábitos; que o peso e a voracidade
das ideologias da cultura individualista sejam diluídos; que triunfe o
ecossistema de amor e de liberdade das famílias cristãs sobre o alicerce
de areia movediça das famílias light. E, sobretudo, que os mais jovens
encarem o matrimônio com desejo de construir e melhorar as relações
humanas, dispostos a se entregar, a formar uma família e a encher sua
vida com esta empresa colossal que Deus lhes encomenda.
Portanto, ame, ame muito, ame sempre, e
não deixe que a acomodação, o egoísmo, o isolamento, ou a desculpa pela
falta de tempo destruam você e a sua família. Tenha cuidado, pois a
família precisa de atenção especial e não a TV, o vídeo game, a
Internet, o boteco, os seus amigos, as baladas! Abaixo as famílias
light!
*Docente da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT). Doutora em História Social pela USP, autora do livro
"Rondonópolis-MT: um entroncamento de mão única".
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