Na 100ª catequese de seu pontificado, na
quarta-feira, 26, o papa Francisco prossegue refletindo sobre a
família, desta vez falou da da oração no ambiente familiar.
Leia o texto na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia! Depois
de ter refletido sobre como a família vive os tempos da festa e do
trabalho, consideramos agora o tempo da oração. A queixa mais frequente
dos cristãos diz respeito ao tempo: "Deveria rezar mais...; gostaria de
fazê-lo, mas muitas vezes me falta o tempo". Ouvimos isso continuamente.
O arrependimento é sincero, certamente, porque o coração humano procura
sempre a oração, mesmo sem sabê-lo; e se não a encontra não tem paz.
Mas para que se encontre, é preciso cultivar no coração um amor "quente"
por Deus, um amor afetivo.
Podemos nos fazer uma pergunta muito
simples. Tudo bem acreditar em Deus com todo o coração, tudo bem esperar
que nos ajude nas dificuldades, tudo bem sentir-se no dever de
agradecê-Lo. Tudo certo. Mas queremos também um pouco de bem ao Senhor? O
pensamento de Deus nos comove, nos surpreende, nos suaviza?
Pensemos na formulação do grande
mandamento, que sustenta todos os outros: "Amarás ao Senhor, teu Deus,
com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as forças" (Dt
6, 5; cfr Mt 22, 37). A fórmula usa a linguagem intensiva do amor,
derramando-o em Deus. Bem, o espírito de oração mora antes de tudo aqui.
E se mora aqui, mora todo o tempo e não sai nunca. Conseguimos pensar
em Deus como uma carícia que nos dá em vida, antes da qual nada existe?
Uma carícia da qual nem a morte nos pode separar? Ou pensamos Nele
apenas como um grande Ser, o Onipotente que fez todas as coisas, o Juiz
que controla toda ação? Tudo verdade, naturalmente. Mas somente quando
Deus é o afeto de todos os nossos afetos, o significado destas palavras
se tornam plenos. Então nos sentimos felizes, e também um pouco
confusos, porque Ele pensa em nós e, sobretudo, nos ama! Isso não é
impressionante? Não é impressionante que Deus nos acaricie com amor de
pai? É tão belo! Podia simplesmente se fazer reconhecer como o Ser
supremo, dar os seus mandamentos e esperar os resultados. Em vez disso,
Deus fez e faz infinitamente mais que isso. Acompanha-nos no caminho da
vida, nos protege, nos ama.
Se o afeto por Deus não acende o fogo, o
espírito da oração não aquece o tempo. Podemos também multiplicar as
nossas palavras, "como fazem os pagãos", diz Jesus; ou até mesmo exibir
os nossos ritos, "como fazem os fariseus" (cfr Mt 6, 5.7). Um coração
habitado pelo afeto por Deus faz transformar em oração também um
pensamento sem palavras, ou uma invocação diante de uma imagem sagrada,
ou um beijo mandado para a igreja. É belo quando as mães ensinam os
filhos pequenos a mandar um beijo a Jesus ou a Nossa Senhora. Quanta
ternura há nisso! Naquele momento, o coração das crianças se transforma
em lugar de oração. E é um dom do Espírito Santo. Não esqueçamos nunca
de pedir este dom para cada um de nós! Porque o Espírito de Deus tem
aquele seu modo especial de dizer nos nossos corações "Abbà" – "Pai",
nos ensina a dizer "Pai" propriamente como o dizia Jesus, um modo que
nunca poderemos encontrar sozinhos (cfr Gal 4, 6). É na família que se
aprende a pedir e apreciar este dom do Espírito. Se o aprende com a
mesma espontaneidade com a qual aprende a dizer "papai" e "mamãe",
aprendeu-se para sempre. Quando isso acontece, o tempo de toda a vida
familiar é envolvido no colo do amor de Deus e procura espontaneamente o
tempo da oração.
O tempo da família, sabemos bem disso, é
um tempo complicado e cheio, ocupado e preocupado. É sempre pouco, não
basta nunca, há tantas coisas a fazer. Quem tem uma família aprende a
resolver uma equação que nem mesmo os grandes matemáticos sabem
resolver: dentro das vinte e quatro horas se faz o dobro! Há mães e pais
que poderiam vencer o Nobel, por isso. De 24 horas fazem 48: não sei
como fazem, mas se movem e o fazem! Há tanto trabalho em família!
O espírito da oração volta o tempo para
Deus, sai da obsessão de uma vida à qual sempre falta o tempo,
reencontra a paz das coisas necessárias e descobre a alegria de dons
inesperados. Boas guias para isso são as duas irmãs, Marta e Maria, da
qual fala o Evangelho que escutamos; elas aprendem de Deus a harmonia
dos ritmos familiares: a beleza da festa, a serenidade do trabalho, o
espírito da oração (cfr Lc 10, 38-42). A visita de Jesus, ao qual
queriam bem, era a festa delas. Um dia, porém, Marta aprendeu que o
trabalho da hospitalidade, mesmo sendo importante, não é tudo, mas que
escutar o Senhor, como fazia Maria, era realmente o essencial, a "melhor
parte" do tempo. A oração surge da escuta de Jesus, da leitura do
Evangelho. Não se esqueçam, todos os dias leiam um trecho do Evangelho. A
oração surge da intimidade com a Palavra de Deus. Há esta intimidade na
nossa família? Temos em casa o Evangelho? Nós o abrimos algumas vezes
para lê-lo juntos? Nós o meditamos rezando o Rosário? O Evangelho lido e
meditado em família é como um pão bom que alimenta o coração de todos. E
pela manhã e à noite, e quando sentamos à mesa, aprendamos a dizer
juntos uma oração, com muita simplicidade: é Jesus que vem entre nós,
como ia à família de Marta, Maria e Lázaro. Uma coisa que tenho muito no
coração e que vi nas cidades: há crianças que não aprenderam a fazer o
sinal da cruz! Mas você mãe, pai, ensina a criança a rezar, a fazer o
sinal da cruz: esta é uma tarefa bela das mães e dos pais!
Na oração da família, nos seus momentos
fortes e nas suas passagens difíceis, nos confiemos uns aos outros, para
que cada um de nós na família seja protegido pelo amor de Deus.
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