Dom Washington Cruz
Arcebispo de Goiânia (GO)
“Meu Filho, porque agiste assim conosco? Teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura!” (Lc 2,48)
Pais aflitos, à procura de um Filho,
pelo visto tranquilamente sossegado no seu admirável mundo novo, bem no
coração da cidade santa de Jerusalém. Pais aflitos procuram o Filho,
como quem tem de aprender a ser pai e a ser mãe, agora de outra maneira.
E o Filho, já crescido, que, sem se darem conta, deixara de ser Menino
Jesus, surpreende os pais com uma declaração de independência: “Por que
me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” Maria e
José partilham assim a aflição e a procura dos pais de hoje: pais com
dúvidas sobre o modo correto de educar, pais atentos e com vontade de
fazer o melhor que sabem e podem, mas ainda assim, pais perdidos no mar
desconhecido do relacionamento com os filhos, desde a infância, mas,
sobretudo, a partir da adolescência.
Eu gostaria, hoje, de me pôr na pele
desses pais aflitos e ajudar, com algumas sugestões, a atravessar esse
mar desconhecido e tumultuoso do relacionamento com os filhos. E, à luz
do Evangelho de hoje, abrir horizontes de esperança e de confiança, na
sua missão educativa.
1º. Intervir na infância. A criança
estabelece relações de proximidade, vínculos de afetividade, de respeito
e de autoridade, já a partir do útero e desde o leite materno. A
ligação com os filhos é, por isso, a base mais segura para o
desenvolvimento da sua capacidade de conhecer, de amar e de se
relacionar. Mais vale a presença atenta, simples e gratuita dos pais,
que todos os presentes bem embrulhados.
2º. Os pais devem desenvolver, desde o
nascimento, uma empatia calorosa com os filhos, em que se conjuguem, de
modo equilibrado, o amor e a disciplina, a proteção e o controle, a
compreensão e a correção, a atenção a cada um e o sentido do outro. A
autoridade dos pais constrói-se nessa relação.
3º. A esse respeito, importa compreender
e aceitar que cada filho é único, diferente na ordem do nascimento, da
saúde, do temperamento, da inteligência, do sucesso. Mas também é
verdade que, não obstante as acentuadas diferenças, os filhos são
iguais. E são iguais porque são irmãos. E são irmãos não em função
daquilo que são ou daquilo que têm, mas em função daquilo que primeiro
lhes foi dado e feito, em função de um Amor que está na sua origem: o
amor dos pais e o amor de Deus. A experiência do amor é antes de mais a
experiência de ser amado!
4º. Os pais têm de aprender a
estabelecer limites para os filhos, desde o nascimento. O mesmo olhar
que cuida e protege, também proíbe, censura, adverte, corrige, de modo
que a criança não se sinta o centro do mundo e o rei da casa, até se
tornar o tirano da família. Sem limites, a criança incha de importância e
chega à adolescência incapaz de perceber que “o mundo está muito para
além do seu umbigo”!
5º. Para tomar consciência dos seus
limites e para saber como se comportar, a criança precisa também de
regras, rotinas, horários, hábitos e disciplina, rituais e tradições.
Ambiente organizado, regras claras, responsabilidades atribuídas, são o
modo mais eficaz para favorecer a autonomia e consolidar a autoestima
dos filhos; as festas de família, as festas religiosas, a celebração dos
aniversários, merecem ser assinalados e ajudam a família a crescer na
sua identidade e proximidade. Também a esse respeito nos dão um belo
exemplo “os pais de Jesus que iam todos os anos a Jerusalém, pela festa
da Páscoa”.
6º. Um diálogo, de cinco minutos, com os
filhos vale mais do que dezenas de horas no psicólogo. Os pais são, sem
dúvida, os melhores terapeutas dos filhos, pela simples razão de serem
quem os conhece melhor. Esse diálogo ganha, sempre que diminuir a
crítica e se preferir a apreciação estimulante. Quanto ao diálogo com as
crianças, por que não retomar a tradição de ler ou contar uma história a
elas? Muitas vezes, tensas e caladas, as crianças conseguem, por esse
meio, exprimir emoções, afetos, vivências.
7º. É importante dialogar, explicar,
justificar atitudes e comportamentos, em relação aos filhos. Mas há
situações, na infância e talvez mais ainda na adolescência, que não são
discutíveis nem negociáveis: um filho não pode usar linguagem obscena em
nenhuma circunstância; as questões de saúde e de segurança dos filhos
são inegociáveis e por isso quando os pais não têm conhecimento certo do
programa, da companhia e do destino, têm de dizer “não”, mesmo correndo
o risco de que o seu filho seja o único a não participar em tal
atividade. Nesse campo das “saídas”, mais vale, aos pais, pecar por
rigor do que falhar por desleixo. Maria e José “começaram a procurar
Jesus entre os parentes e conhecidos. E, não O encontrando, voltaram a
Jerusalém, à sua procura”. Em caso nenhum, a democracia na família
derruba a hierarquia. Assim, o normal é que sejam os pais a ter a última
palavra. Vede como, apesar da sua resposta ousada e surpreendente, o
adolescente Jesus “desceu então com Maria e José para Nazaré e era-lhes
submisso”.
8º. Por causa de um “não”, os pais têm,
muitas vezes, de suportar o desamor temporário dos seus filhos, porque a
criação de um limite e a frustração daí resultante são essenciais para o
futuro da criança, sobretudo na adolescência. Educar não é estar sempre
a premiar e a gratificar os filhos, muito menos esperar que os filhos
nos confirmem como bons pais e nos alimentem do afeto; educar é fazer a
pessoa sair de si mesma, fazê-la olhar o outro, acolher os outros. E
isso implica conduzir, frustrar, transmitir valores. Custe o que custar.
9º. Importante, sempre, é
responsabilizar os filhos por atividades adequadas à sua idade: arrumar o
quarto, pôr a mesa, etc. Também o adolescente, precisamente porque não é
nenhum doente e muito menos um demente, deve ser estimulado a
responsabilizar-se por tarefas, a assumir responsabilidades, a fazer
opções. Assim aprende a ser adulto.
10º. Não posso esquecer, por último,
como é importante melhorar a comunicação entre a escola e a família,
entre a família e a Igreja, entre a família e Deus. Nenhuma família
pode, por si só, dar tudo o que os filhos precisam para crescer, como
Jesus, em sabedoria, em estatura e em graça! Contai conosco. Contamos
convosco. Deus esteja com todos vós e abençoe as nossas famílias!
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