Durante a Campanha deste ano, ocorrerá a abertura do Jubileu
Extraordinário da Misericórdia. É desejo do Papa Francisco que a Igreja
anuncie a misericórdia, caminho que une Deus e os homens, e nutre a
esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso
pecado. As comunidades são chamadas a prepararem as pessoas para
contemplarem o rosto misericordioso de Deus, manifesto na ternura do
Filho que Maria Santíssima apresenta a todos, e acolherem os valores que
Ele nos anuncia.
A Igreja é a continuadora da obra de Cristo e cumpridora do seu mandato: “Ide,
pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos
prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.
(Mt 28,19-20) Fazer discípulos de Jesus é criar condições para que a
misericórdia se faça presente nos corações dos fiéis, assim o definiu o
Papa Francisco: “É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e
nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos
revela e comunica a misericórdia infinita do Pai”. Anunciar a salvação
em Jesus Cristo é anunciar o Deus misericordioso que vem ao nosso
encontro. Não se trata de um mero anúncio que precisa ser conhecido no
seu conteúdo, mas o anúncio de uma forma de relacionamento amoroso e
misericordioso entre o nosso Deus e seus filhos e suas filhas.
Somente a comunidade evangelizada e evangelizadora é uma comunidade
verdadeiramente misericordiosa e, por isso, bem-aventurada. Por isso,
nos preparando para celebrar o Natal do Senhor, devemos nos empenhar no
trabalho evangelizador para manifestar o Natal como a chegada daquele
que nos traz a salvação e nos mostra, no seu significado mais profundo e
em todas as suas decorrências, o amor misericordioso do nosso Deus.
No Natal, celebramos a vinda de Jesus Cristo. O Papa Francisco inicia
a sua Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia
afirmando o seguinte: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O
mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese.
Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus
de Nazaré”. 2 No Natal, a misericórdia de Deus vem ao nosso
encontro na pessoa de Jesus. Devemos ver nele e aprender dele as
exigências da misericórdia, assim como nos alegrar, porque Deus nos ama
tanto.
A misericórdia, no dizer do Papa Francisco, é o ato último e supremo
pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Deus é amor e a misericórdia é a
forma amorosa que Deus escolheu para se relacionar conosco. Jesus nos
disse: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu
vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34).
Jesus nos mostrou o amor misericordioso de Deus para conosco e nós
devemos nos aprofundar na vivência da misericórdia para sermos
obedientes ao novo mandamento de Jesus.
Para que possamos crescer na vivência da misericórdia, é necessário
que façamos a experiência da misericórdia que Deus tem por nós, é
necessário que experimentemos o seu amor em nossas vidas. E o amor de
Deus se manifesta de forma mais profunda no perdão dos pecados. Todos
nós experimentamos esse amor, pois todos somos pecadores, mas nem sempre
temos consciência disso.
A partir dessa tomada de consciência, poderemos mostrar ao mundo,
conforme nos pede o Papa Francisco, que “a misericórdia de Deus não é
uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o
seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho
até o mais íntimo das suas vísceras”.
Com isso, percebemos a importância da misericórdia no trabalho
evangelizador: precisamos levar a humanidade a fazer a experiência do
amor misericordioso de Deus, não só em vista da própria salvação, mas
também para desenvolver com os irmãos e as irmãs novas formas de
relacionamento fundamentadas na misericórdia como caminho de superação
da cultura da morte presente na nossa sociedade através da construção da
civilização do amor.
O Papa Francisco, na Bula Misericordiae Vultus, nos diz que “A Igreja
tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do
Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada
pessoa” (n. 12). Por causa disso, a Campanha para a Evangelização deste
ano escolheu como tema a Misericórdia.
O Natal é, por excelência, a experiência do Deus misericordioso que
enviou seu Filho ao mundo para concretizar o seu plano salvífico da
humanidade. Somos convidados a fazer deste Natal, no contexto do Ano
Santo Extraordinário da Misericórdia, uma rica experiência do amor de
Deus. O mundo precisa fazer esta experiência nova de Natal para viver
seu verdadeiro espírito. Como sabemos, o Natal se tornou uma festa
mundana: a festa do comércio, do lucro, do consumo, da gula e da
embriaguez. Em nome do nascimento de Jesus, muita gente faz tudo o que
Ele não faria nem gostaria que alguém fizesse. O mito do Papai Noel é o
dono da festa e muitos são excluídos dela por falta de recursos. É uma
experiência de pura materialidade.
O Papa Francisco nos diz: “A primeira verdade da Igreja é o amor de
Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a
Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a
Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai”.
Que o Natal seja marcado pela presença evangelizadora da Igreja
anunciando a misericórdia.
A Campanha para a Evangelização deve sensibilizar todos os fiéis para
que possam contribuir, seja pela atuação pastoral, seja pela ajuda
material, com o anúncio desta verdade: Jesus é a maior manifestação da
misericórdia de Deus. Ela
foi criada pela Conferência Nacional dos Bispos em 1998, para o
exercício da solidariedade de todos os católicos no sustento da missão
evangelizadora da Igreja em nosso país. A Campanha deve ser realizada
tendo o seu início na festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do
Universo, e encerrada no terceiro domingo do Advento, com a realização
da Coleta para a Evangelização.
O objetivo da Campanha é despertar os discípulos e as discípulas
missionários para o compromisso evangelizador e para a responsabilidade
pela sustentação das atividades pastorais da Igreja no Brasil. A
Campanha para a Evangelização segue o exemplo das primeiras comunidades,
às quais Paulo recomendava que os que têm se enriqueçam de boas obras,
deem com prodigalidade e repartam com os demais (cf. 2Cor 8 e 9).
Pai Santo, quisestes que a vossa Igreja fosse no mundo fonte de
salvação para todas as nações, a fim de que a obra do Cristo que vem
continue até o fim dos tempos. Aumentai em nós o ardor da evangelização,
derramando o Espírito prometido, e fazei brotar em nossos corações a
resposta da fé. Por Cristo, nosso Senhor. Amém! (Do texto referencial da
Campanha da Evangelização 2015)
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
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