"Este
Ano Santo Extraordinário é dom de graça. Entrar por aquela Porta
significa descobrir a profundidade da misericórdia do Pai que a todos
acolhe e vai pessoalmente ao encontro de cada um. É Ele que busca, que
vem ao nosso encontro. Neste Ano, deveremos crescer na convicção da
misericórdia", disse o papa Francisco na cerimônia que deu início ao
Jubileu Extraordinário da Misericórdia.
Milhares de peregrinos do mundo todo
acompanharam a abertura da Porta Santa, no Vaticano, na manhã desta
terça-feira, 8 de dezembro. A celebração litúrgica recorda a Festa da
Imaculada Conceição e o 50º aniversário do encerramento do Concílio
Vaticano II. Trata-se do 29º Ano Santo convocado pela Igreja Católica ao
longo da história, com a proposta de convidar os fiéis a intensas
jornadas de oração.
Antes de abrir a Porta Santa, o papa
Francisco presidiu missa na Praça de São Pedro, para aproximadamente 50
mil pessoas. Na homilia, disse que o início do Ano da Misericórdia marca
uma caminhada penitencial e de conversão na vida de cada cristão,
fazendo referência à liturgia mariana.
"A festa da Imaculada Conceição exprime a
grandeza do amor divino. Deus não é apenas Aquele que perdoa o pecado,
mas, em Maria, chega até a evitar a culpa original, que todo o homem
traz consigo ao entrar neste mundo. É o amor de Deus que evita, antecipa
e salva", recordou Francisco.
Após a missa, o papa Francisco realizou
"gesto simbólico", como ele mesmo referiu-se, abrindo a Porta da
Basílica de São Pedro, no Vaticano. O papa emérito, Bento XVI participou
da cerimônia. "Atravessar hoje a Porta Santa nos compromete a adotar a
misericórdia do bom samaritano", recordou Francisco.
Confira a homilia na íntegra:
Homilia do Papa Francisco na abertura do Ano da Misericórdia
Praça São Pedro – Vaticano
Terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Boletim da Santa Sé
Irmãos e irmãs!
Daqui a pouco, terei a alegria de abrir a
Porta Santa da Misericórdia. Este gesto, como eu fiz em Bangui, muito
simples mas altamente simbólico, realizamo-lo à luz da Palavra de Deus
escutada que põe em evidência a primazia da graça. Na verdade, o tema
que mais vezes aflora nestas Leituras remete para aquela frase que o
anjo Gabriel dirigiu a uma jovem mulher, surpresa e turbada, indicando o
mistério que a iria envolver: «Salve, ó cheia de graça» (Lc 1, 28).
Antes de mais nada, a Virgem Maria é
convidada a alegrar-Se com aquilo que o Senhor realizou n'Ela. A graça
de Deus envolveu-A, tornando-A digna de ser mãe de Cristo. Quando
Gabriel entra na sua casa, até o mistério mais profundo, que ultrapassa
toda e qualquer capacidade da razão, se torna para Ela motivo de
alegria, de fé e de abandono à palavra que Lhe é revelada. A plenitude
da graça é capaz de transformar o coração, permitindo-lhe realizar um
ato tão grande que muda a história da humanidade.
A festa da Imaculada Conceição exprime a
grandeza do amor divino. Deus não é apenas Aquele que perdoa o pecado,
mas, em Maria, chega até a evitar a culpa original, que todo o homem
traz consigo ao entrar neste mundo. É o amor de Deus que evita, antecipa
e salva. O início da história do pecado no Jardim do Éden encontra
solução no projeto de um amor que salva. As palavras do Gênesis
levam-nos à experiência diária que descobrimos na nossa existência
pessoal. Há sempre a tentação da desobediência, que se exprime no desejo
de projetar a nossa vida independentemente da vontade de Deus. Esta é a
inimizade que ameaça continuamente a vida dos homens, tentando
contrapô-los ao desígnio de Deus. E todavia a própria história do pecado
só é compreensível à luz do amor que perdoa. Se tudo permanecesse
ligado ao pecado, seríamos os mais desesperados entre as criaturas. Mas
não! A promessa da vitória do amor de Cristo encerra tudo na
misericórdia do Pai. Sobre isto, não deixa qualquer dúvida a palavra de
Deus que ouvimos. Diante de nós, temos a Virgem Imaculada como
testemunha privilegiada desta promessa e do seu cumprimento.
Também este Ano Santo Extraordinário é
dom de graça. Entrar por aquela Porta significa descobrir a profundidade
da misericórdia do Pai que a todos acolhe e vai pessoalmente ao
encontro de cada um. É Ele que busca, que vem ao nosso encontro. Neste
Ano, deveremos crescer na convicção da misericórdia. Que grande
injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma, em primeiro
lugar, que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor,
diversamente, que são perdoados pela sua misericórdia (cf. Santo
Agostinho, De praedestinatione sanctorum 12, 24)! E assim é
verdadeiramente. Devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo
o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua
misericórdia. Por isso, oxalá o cruzamento da Porta Santa nos faça
sentir participantes deste mistério de amor, de ternura. Ponhamos de
lado qualquer forma de medo e temor, porque não se coaduna em quem é
amado; vivamos, antes, a alegria do encontro com a graça que tudo
transforma.
Hoje, e em todas as dioceses do mundo,
ao cruzar a Porta Santa, queremos também recordar outra porta que, há
cinquenta anos, os Padres do Concílio Vaticano II escancararam ao mundo.
Esta efeméride não pode lembrar apenas a riqueza dos documentos
emanados, que permitem verificar até aos nossos dias o grande progresso
que se realizou na fé. Mas o Concílio foi também, e primariamente, um
encontro; um verdadeiro encontro entre a Igreja e os homens do nosso
tempo. Um encontro marcado pela força do Espírito que impelia a sua
Igreja a sair dos baixios que por muitos anos a mantiveram fechada em si
mesma, para retomar com entusiasmo o caminho missionário. Era a
retomada de um percurso para ir ao encontro de cada homem no lugar onde
vive: na sua cidade, na sua casa, no local de trabalho... em qualquer
lugar onde houver uma pessoa, a Igreja é chamada a ir lá ter com ela,
para lhe levar a alegria do Evangelho. Trata-se, pois, de um impulso
missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o
mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a
não transcurar o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano,
como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio. Atravessar hoje
a Porta Santa compromete-nos a adotar a misericórdia do bom samaritano.
CNPF/CNBB com informações e fotos da Rádio Vaticano
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