Hoje, 8 de
março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A Comissão Episcopal para a
Vida e Família da CNBB e Comissão Nacional da Pastoral Familiar expressam
gratidão pela vida e vocação de cada mulher. Nesta data, é oportuno recordar as
palavras de São João Paulo II às mulheres, especialmente o que ele nos diz sobre
a mulher, em sua conexão com a dignidade da vida humana. Confira o artigo
escrito por Lenise Garcia, membro da Comissão de Bioética da CNBB, publicado na
revista "Vida e Família".
"Obrigado a ti, mulher!"
Na Carta às mulheres, escrita no contexto da
preparação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, promovida pela ONU em
Pequim, em 1995, João Paulo II agradece à mulher em seus vários perfis, como
mulher-mãe, esposa, filha, irmã, trabalhadora, consagrada. Conclui os
agradecimentos dizendo "Obrigado a ti, mulher, pelo simples fato de seres
mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a
compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações
humanas".
A mesma perspectiva de gratidão à mulher aparece
na Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, sobre a dignidade e vocação da
mulher.
Dignidade e vocação: é interessante que ele nos
apresente a mulher sob esse duplo aspecto. Assim, ressalta-se o que nos
assemelha e o que nos diferencia de nosso "parceiro em humanidade", o homem ou
varão.
João Paulo II salienta que a dignidade da mulher
provém, como a do homem, da "elevação sobrenatural à união com Deus" Acrescenta
ainda que "o gênero humano, que se inicia com a chamada à existência do homem e
da mulher, coroa toda a obra da criação; os dois são seres humanos, em grau
igual o homem e a mulher, ambos criados à imagem de Deus". Há, portanto, uma
igualdade radical. Qualquer traço cultural ou política social que trate a mulher
como se esta fosse inferior em dignidade não reflete o querer de Deus.
Para João Paulo II, reconhecer essa igualdade
efetiva dos direitos da pessoa é " não só um ato de justiça, mas também uma
necessidade. Na política do futuro, os graves problemas em aberto verão sempre
mais envolvida a mulher: tempo livre, qualidade da vida, migrações, serviços
sociais, eutanásia, droga, saúde e assistência, ecologia, etc. Em todos estes
campos, se revelará preciosa uma maior presença social da mulher, porque
contribuirá para fazer manifestar as contradições de uma sociedade organizada
sobre critérios de eficiência e produtividade, e obrigará a reformular os
sistemas a bem dos processos de humanização que delineiam a « civilização do
amor »" (Carta às mulheres, n.4).
É interessante notar que João Paulo II fala em
igual dignidade, mas em "paridade de direitos", e não em "igualdade de direitos"
entre o homem e a mulher. Paridade é um conceito que envolve tanto a unidade
como a diversidade. A sua raiz vem justamente de "par", termo tantas vezes usado
para referir-nos a um casal. Permitam-me a singela comparação, também falamos em
"par de sapatos". Os sapatos de um par são muito similares, mas não iguais. Eles
se complementam, pois um deve servir no pé direito, e o outro no pé esquerdo. A
equivocada compreensão do próprio papel e vocação, na esteira de um "feminismo"
mal entendido, faz com que muitas mulheres estejam tão desconfortáveis quanto um
pé esquerdo em um calçado de pé direito.
João Paulo II nos traz duas dimensões da vocação
da mulher: a maternidade e a virgindade, que de modo excepcional se encontram em
Nossa Senhora. Sobre a primeira, destaca que "a maternidade implica desde o
início uma abertura especial para a nova pessoa: e precisamente esta é a « parte
» da mulher. Nessa abertura, ao conceber e dar à luz o filho, a mulher «se
encontra por um dom sincero de si mesma »". Tanto a constituição corporal como a
psíquica da mulher estão ligadas à maternidade, mesmo naquelas mulheres que não
tem filhos. As mulheres são especialmente dotadas para a acolhida e o
cuidado.
Ele chama ainda a atenção para o fato de que na
atualidade "com frequência, é mais penalizado que gratificado o dom da
maternidade, à qual, todavia, a humanidade deve a sua própria
sobrevivência".
É preciso ressaltar que a vida é sempre um dom, e
João Paulo II o fez particularmente em sua encíclica Evangelium Vitae. Logo na
Introdução, ele destaca que "na aurora da salvação, é proclamado como feliz
notícia o nascimento de um menino: « Anuncio-vos uma grande alegria, que o será
para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o
Messias, Senhor » (Lc 2, 10-11). O motivo imediato que faz irradiar esta «
grande alegria » é, sem dúvida, o nascimento do Salvador; mas, no Natal,
manifesta-se também o sentido pleno de todo o nascimento humano, pelo que a
alegria messiânica se revela fundamento e plenitude da alegria por cada criança
que nasce (cf. Jo 16, 21)."
Deveríamos rezar com frequência a belíssima
oração com a qual João Paulo II conclui essa encíclica:
Ó Maria,
aurora do mundo
novo,
Mãe dos viventes,
confiamo-Vos a causa da
vida:
Confiemos à causa da vida, assim como
a da mulher, geradora de vida, também a São João Paulo II, que tão bem as
cuidou.
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