Neste domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, recorda-se,
também as lutas das mulheres pelos seus direitos e dignidade. A Exortação
Apostólica Familiaris Consortio, escrita por São João Paulo II, em 22
de novembro de 1981, "sobre a função da família cristã no mundo de hoje",
ressalta o papel da mulher na sociedade e seu valor na comunidade.
A Comissão Episcopal para a Vida e Família da
CNBB e Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF) parabenizam todas as
mulheres por este dia, desejando que as palavras de São João Paulo II sejam
proclamadas do mundo, em defesa da dignidade de cada mulher, mãe e esposa.
Confira trechos da Familiaris
Consortio:
Direitos e função da mulher
22. Enquanto é, e deve tornar-se, comunhão e
comunidade de pessoas, a família encontra no amor a fonte e o estímulo
incessante para acolher, respeitar e promover cada um dos seus membros na
altíssima dignidade de pessoas, isto é, de imagens vivas de Deus. Como
justamente afirmaram os Padres Sinodais, o critério moral da autenticidade das
relações conjugais e familiares consiste na promoção da dignidade e vocação de
cada uma das pessoas que encontram a sua plenitude mediante o dom sincero de si
mesmas(63).
Nesta perspectiva, o Sínodo quis prestar atenção
privilegiada à mulher, aos seus direitos e função na família e na sociedade.
Nesta mesma perspectiva devem considerar-se também o homem como esposo e pai, a
criança e os anciãos.
É de ressaltar-se antes de tudo a igual dignidade
e responsabilidade da mulher em relação ao homem: tal igualdade encontra uma
forma singular de realização na doação recíproca de si ao outro e de ambos aos
filhos, doação que é específica do matrimônio e da família. Tudo o que a razão
intui e reconhece, vem revelado plenamente pela Palavra de Deus: a história da
salvação é, de facto, um contínuo e claro testemunho da dignidade da mulher.
Ao criar o homem «varão e mulher»(64), Deus dá a
dignidade pessoal de igual modo ao homem e à mulher, enriquecendo-os dos
direitos inalienáveis e das responsabilidades que são próprias da pessoa humana.
Deus manifesta ainda na forma mais elevada possível a dignidade da mulher, ao
assumir Ele mesmo a carne humana da Virgem Maria, que a Igreja honra como Mãe de
Deus, chamando-a nova Eva e propondo-a como modelo da mulher redimida. O
delicado respeito de Jesus para com as mulheres a quem chamou ao seu séquito e
amizade, a aparição na manhã da Páscoa a uma mulher antes que aos discípulos, a
missão confiada às mulheres de levar a boa nova da Ressurreição aos apóstolos,
são tudo sinais que confirmam a especial estima de Jesus para com a mulher. Dirá
o Apóstolo Paulo: «Porque todos vós sois filhos de Deus, mediante a fé em Jesus
Cristo ... Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há homem nem
mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus»(65).
A mulher e a sociedade
23. Sem entrar agora a tratar nos seus vários
aspectos o amplo e complexo tema das relações mulher-sociedade, mas limitando
estas considerações a alguns pontos essenciais, não se pode deixar de observar
como, no campo mais especificamente familiar, uma ampla e difundida tradição
social e cultural tenha pretendido confiar à mulher só a tarefa de esposa e mãe,
sem a estender adequadamente às funções públicas, em geral, reservadas ao
homem.
Não há dúvida que a igual dignidade e
responsabilidade do homem e da mulher justificam plenamente o acesso da mulher
às tarefas públicas. Por outro lado, a verdadeira promoção da mulher exige
também que seja claramente reconhecido o valor da sua função materna e familiar
em confronto com todas as outras tarefas públicas e com todas as outras
profissões. De resto, tais tarefas e profissões devem integrar-se entre si se se
quer que a evolução social e cultural seja verdadeira e plenamente humana.
Isto conseguir-se-á mais facilmente se, como o
desejou o Sínodo, uma renovada «teologia do trabalho» esclarecer e aprofundar o
significado do trabalho na vida cristã e determinar o laço fundamental que
existe entre o trabalho e a família, e, portanto, o significado original e
insubstituível do trabalho da casa e da educação dos filhos(66). Portanto a
Igreja pode e deve ajudar a sociedade atual pedindo insistentemente que seja
reconhecido por todos e honrado no seu insubstituível valor o trabalho da mulher
em casa. Isto é de importância particular na obra educativa: de facto,
elimina-se a própria raiz da possível discriminação entre os diversos trabalhos
e profissões, logo que se veja claramente como todos, em cada campo, se empenham
com idêntico direito e com idêntica responsabilidade. Deste modo aparecerá mais
esplendente a imagem de Deus no homem e na mulher.
Se há que reconhecer às mulheres, como aos
homens, o direito de ascender às diversas tarefas públicas, a sociedade deve
estruturar-se, contudo, de maneira tal que as esposas e as mães não sejam de
facto constrangidas a trabalhar fora de casa e que a família possa dignamente
viver e prosperar, mesmo quando elas se dedicam totalmente ao lar próprio.
Deve além disso superar-se a mentalidade segundo
a qual a honra da mulher deriva mais do trabalho externo do que da atividade
familiar. Mas isto exige que se estime e se ame verdadeiramente a mulher com
todo o respeito pela sua dignidade pessoal, e que a sociedade crie e desenvolva
as devidas condições para o trabalho doméstico.
A Igreja, com o devido respeito pela vocação
diversa do homem e da mulher, deve promover, na medida do possível, também na
sua vida, a igualdade deles quanto a direitos e dignidades, e isto para o bem de
todos: da família, da Igreja e da sociedade.
É evidente, porém, que isto não significa para a
mulher a renúncia à sua feminilidade nem a imitação do carácter masculino, mas a
plenitude da verdadeira humanidade feminil, tal como se deve exprimir no seu
agir, quer na família quer fora dela, sem contudo esquecer, neste campo, a
variedade dos costumes e das culturas.
Ofensas à dignidade da
mulher
24. Infelizmente a mensagem cristã acerca da
dignidade da mulher vem sendo impugnada por aquela persistente mentalidade que
considera o ser humano não como pessoa, mas como coisa, como objecto de
compra-venda, ao serviço de um interesse egoístico e exclusivo do prazer: e a
primeira vítima de tal mentalidade é a mulher.
Esta mentalidade produz frutos bastante amargos,
como o desprezo do homem e da mulher, a escravidão, a opressão dos fracos, a
pornografia, a prostituição - sobretudo quando é organizada - e todas aquelas
várias discriminações que se encontram no âmbito da educação, da profissão, da
retribuição do trabalho, etc.
Além disso, ainda hoje, em grande parte da nossa
sociedade, permanecem muitas formas de discriminação aviltante que ferem e
ofendem gravemente algumas categorias particulares de mulheres, como, por
exemplo, as esposas que não têm filhos, as viúvas, as separadas, as divorciadas,
as mães-solteiras.
Estas e outras discriminações foram veementemente
deploradas pelos Padres Sinodais. Solicito, pois, que se desenvolva uma ação
pastoral específica mais vigorosa e incisiva, a fim de que sejam vencidas em
definitivo, para se poder chegar à estima plena da imagem de Deus que esplandece
em todos os seres humanos, sem nenhuma exclusão.
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