A
Praça de São Pedro, no Vaticano, ficou lotada de peregrinos de
diferentes partes do mundo, para a última audiência geral do ano, com o
papa Francisco. Em 2014, foram 43 audiências no total, com a
participação de um milhão e 200 mil pessoas.
Antes de iniciar a reflexão, o papa
passou entre os fiéis e recebeu o carinho por ocasião da celebração de
seu aniversário de 78 anos.
Em preparação ao Sínodo sobre a Família,
em outubro próximo, o papa Francisco iniciou uma séria de reflexões.
Com a proximidade do Natal, meditou nesta quarta-feira, 17 de dezembro,
sobre a família de Nazaré.
"Deus escolheu nascer em uma família
humana, que formou Ele mesmo", disse o papa Francisco. Confira abaixo a
íntegra da catequese.
Boletim da Santa SéTradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Sínodo dos Bispos sobre família,
celebrado há pouco, foi a primeira etapa de um caminho que se concluirá
em outubro próximo com a celebração de uma outra Assembleia sobre o
tema: "Vocação e missão da família na Igreja e no mundo". A oração e a
reflexão que devem acompanhar este caminho envolvem todo o Povo de Deus.
Gostaria que também as meditações habituais das audiências de
quarta-feira se inserissem neste caminho comum. Desejei, por isso,
refletir com vocês, nesse ano, justamente sobre família, sobre este
grande dom que o Senhor deu ao mundo desde o princípio, quando conferiu a
Adão e Eva a missão de se multiplicar e encher a terra (cfr Gen 1, 28).
Aquele dom que Jesus confirmou e selou no seu Evangelho.
A proximidade do Natal acende sobre este
mistério uma grande luz. A encarnação do Filho de Deus abre um novo
início na história universal do homem e da mulher. E este novo início
acontece no seio de uma família, em Nazaré. Jesus nasce em uma família.
Ele podia vir espetacularmente, ou como um guerreiro, um imperador...
Não, não: vem como um filho de família, em uma família. Isto é
importante: olhar no presépio esta cena tão bela.
Deus escolheu nascer em uma família
humana, que formou Ele mesmo. Ele formou em uma vila remota da periferia
do Império Romano. Não em Roma, que era a capital do Império, não em
uma grande cidade, mas em uma periferia quase invisível, bastante mal
falada. Recordam-no também os Evangelhos, quase como um modo de dizer:
"De Nazaré pode vir alguma coisa de bom?" (Jo 1, 46). Talvez, em muitas
partes do mundo, nós mesmos ainda falamos assim, quando ouvimos o nome
de qualquer lugar periférico de uma grande cidade. Bem, justamente dali,
daquela periferia do grande Império, começou a história mais santa e
melhor, aquela de Jesus entre os homens! E ali se encontrava esta
família.
Jesus permaneceu naquela periferia por
trinta anos. O Evangelista Lucas resume este período assim: Jesus "era
seu submisso [isso é, a Maria e José]. E alguém poderia dizer: "Mas este
Deus que vem nos salvar, perdeu 30 anos ali, naquela periferia mal
falada?". Perdeu 30 anos! Ele quis isso. O caminho de Jesus era naquela
família. "A mãe protegia no seu coração todas as coisas e Jesus crescia
em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens"
(2, 51-52). Não se fala de milagres ou curas, de pregações – não fez
nenhuma naquele tempo – de multidões que se reúnem; em Nazaré, tudo
parecia acontecer "normalmente", segundo os costumes de uma piedosa e
trabalhadora família israelita: trabalhava-se, a mãe cozinhava, fazia
todas as coisas da casa, esticava as camisas... todas as coisas da mãe. O
pai, carpinteiro, trabalhava, ensinava o filho a trabalhar. Trinta
anos. "Mas que desperdício, padre!". Os caminhos de Deus são
misteriosos. Mas aquilo que era importante ali era a família! E isto não
era um desperdício! Eram grandes santos: Maria, a mulher mais santa,
imaculada, e José, o homem mais justo... A família".
Ficaríamos certamente comovidos com a
história de como Jesus adolescente enfrentava os compromissos da
comunidade religiosa e os deveres da vida social; em conhecer como, de
jovem trabalhador, trabalhava com José; e depois o seu modo de
participar da escuta das Escrituras, da oração dos salmos e em tantos
outros costumes da vida cotidiana. Os Evangelhos, em sua sobriedade, não
referem nada sobre a adolescência de Jesus e deixam esta tarefa à nossa
afetuosa meditação. A arte, a literatura, a música percorreram este
caminho da imaginação. De certo, não é difícil imaginar quanto as mães
poderiam aprender com a atenção de Maria por aquele Filho! E quanto os
pais poderiam derivar do exemplo de José, homem justo, que dedicou a sua
vida a apoiar e defender o menino e a esposa – a sua família – nas
passagens difíceis! Para não dizer quanto os jovens poderiam ser
encorajados por Jesus adolescente a compreender a necessidade e a beleza
de cultivar a sua vocação mais profunda, e de sonhar grande! E Jesus
cultivou naqueles trinta anos a sua vocação para a qual o Pai O enviou. E
Jesus nunca, naquele tempo, se desencorajou, mas cresceu em coragem
para seguir adiante com a sua missão.
Cada família cristã – como fizeram Maria
e José – pode antes de tudo acolher Jesus, escutá-Lo, falar com Ele,
protegê-Lo, crescer com Ele; e assim melhorar o mundo. Demos espaço no
nosso coração e no nosso dia a dia ao Senhor. Assim fizeram também Maria
e José, e não foi fácil: quantas dificuldades tiveram que superar! Não
era uma família falsa, não era uma família irreal. A família de Nazaré
nos empenha a redescobrir a vocação e a missão da família, de cada
família. E como aconteceu naqueles trinta anos em Nazaré, assim pode
acontecer também para nós: fazer tornar normal o amor e não o ódio,
fazer tornar comum a ajuda mútua, não a indiferença ou a inimizade. Não é
acaso, então, que "Nazaré" signifique "Aquela que protege", como Maria,
que – diz o Evangelho – "protegia no seu coração todas essas coisas"
(cfr Lc 2, 19.51). Desde então, cada vez que há uma família que protege
este mistério, mesmo na periferia do mundo, o mistério do Filho de Deus,
o mistério de Jesus que vem nos salvar, está trabalhando. E vem para
salvar o mundo. E esta é a grande missão da família: dar lugar a Jesus
que vem, acolher Jesus na família, na pessoa dos filhos, do marido, da
esposa, dos avós... Jesus está ali. Acolhê-Lo ali, para que cresça
espiritualmente naquela família. Que o Senhor nos dê esta graça nestes
últimos dias antes do Natal. Obrigado.
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