"Algumas pessoas pensam - e desculpem
minha expressão aqui - que, para ser um bom católico, eles precisam ser
como coelhos. Não. Paternidade tem a ver com responsabilidade. Isto é
claro", respondeu o papa. Durante a conversa, Francisco se manteve firme
contra o controle de natalidade artificial e acrescentou que uma nova
vida é "parte do sacramento do matrimônio".
Reflexões com base
Em entrevista ao jornal "O Globo", o
bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a
Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), comenta a
declaração do papa Francisco sobre a "paternidade responsável" e a
outras perguntas feitas pelo jornal.
Confira a versão apresentada na matéria publicada pelo "O Globo" (22/01/2015) e,
abaixo, a entrevista completa com dom Petrini, que explica com base nos
ensinamentos da Igreja, os questinamentos enviados pelo jornal. As
falas do presidente da Comissão Vida e Família não foram publicadas pelo
"O Globo".
O Globo: Ao
afirmar que "católicos não devem se reproduzir feito coelhos", o Papa
Francisco sinaliza uma mudança na doutrina da Igreja quanto ao conceito
de família?
Dom Petrini: O Papa
Francisco não deixa de surpreender os observadores com seu estilo que
quebra protocolos e fala dirigindo-se principalmente às pessoas simples
do que aos teólogos e intelectuais em geral. Na entrevista dada durante a
viagem de retorno das Filipinas, o tom era evidentemente coloquial. E
nesse tom fala de realidades importantíssimas.
Em primeiro lugar, alude a uma
mentalidade que, especialmente a partir dos anos 60 fala em tons
alarmistas da "explosão demográfica", alegando que a pobreza de muitos
povos se deve a uma espécie de ânsia reprodutiva dos mais pobres. Por
esse caminho, muitos países alcançaram taxas negativas de natalidade,
com graves problemas sociais, tais como o envelhecimento da população,
isto é, com a presença de um contingente de idosos muito mais numeroso
que de jovens. Isto gera graves desequilíbrios na sociedade, podendo
levar à falência as caixas de governos que não têm como pagar os
benefícios previdenciários dos idosos e seus cuidados médicos.
Na quarta feira, 21 de janeiro, durante a
audiência na sala Nervi, o Papa lembrou que "a causa principal da
pobreza é um sistema econômico que tirou a pessoa do centro e colocou no
lugar o deus dinheiro; um sistema econômico que exclui, exclui sempre:
exclui crianças, idosos, jovens, desempregados, e cria a cultura do
descarte."
O Globo: O senhor poderia explicar brevemente o conceito de "paternidade responsável"? Se positivo, desde quando ele é aceito?
Dom Petrini: O Papa
Francisco se referiu à paternidade responsável, que é um conceito usado
pela Igreja há muito tempo e incorporado pelo Beato Papa Paulo VI na
Encíclica Humanae Vitae, de 1968. O conceito foi sempre mais
popularizado e está presente no Catecismo da Igreja Católica, de 1992. O
número 2368 deste documento afirma: "Um aspecto particular desta
responsabilidade diz respeito à regulação dos nascimentos. Por razões
justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos".
Paternidade responsável é, então, a atitude dos esposos que, avaliando
suas condições (econômicas, de saúde, etc.) decidem quando ter um filho e
quando esperar. O mesmo número acima recordado acrescenta: "Cabe-lhes
verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a
justa generosidade de uma paternidade responsável".
O
Papa recorda o que sempre a Igreja disse: que não corresponde à
dignidade humana agir por puro instinto, pois atitudes dominadas pelo
instinto são próprias dos animais (no caso, o Papa lembrou dos coelhos,
considerados muito prolíficos pela imaginação popular).
O Globo: Existe algum método contraceptivo ao qual a Igreja mantém posição favorável?
Dom Petrini: Durante a
entrevista, O Papa diz conhecer muitos métodos que são eficazes para
regular a fecundidade e que não são artificiais. De fato, nos últimos
anos, a ciência médica tem avançado muito no aprimoramento de métodos
naturais que dão o casal a possibilidade de regular o número de filhos.
Trata-se de métodos que exigem e promovem um entrosamento entre os
esposos, um permanente diálogo, uma sintonia fina, isto é, atitudes que
constituem uma extraordinária riqueza em suas relações íntimas. Os
interesses dominantes são mais favoráveis a outros métodos que
necessitam de artefatos produzidos por indústrias e que, portanto,
rendem lucros ingentes. Essa é a razão principal pela qual estes métodos
veiculam intensa propaganda e recebem o consenso de todas as formas de
poder.
O Globo: Quais são os motivos doutrinários para que a Igreja seja contra métodos contraceptivos artificiais como preservativo ou pílula?
Dom Petrini: Esta
pergunta envolveria um longo estudo. Posso apenas dizer que a Igreja
sempre zelou e zela para que nada de externo ou artificial se interponha
na expressão da intimidade, na vivência do amor humano. Este cuidado
visa não tirar a responsabilidade de uma das partes, quase sempre o
homem, nos cuidados com os efeitos das relações sexuais, porque isto
poderia transformar a sexualidade num lazer e a mulher num brinquedo.
Nesses casos, poderiam faltar a consideração e o respeito necessários
para que o relacionamento entre homem e mulher se desenvolva na
plenitude da dignidade e seja fonte de satisfação e verdadeira
realização humana.
Assessoria de Imprensa CNPF/com Comissão Vida e Família.
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