Será que a nossa «é
uma vida pela metade»? Uma vida que ignora a força do Espírito Santo? Ou somos
capazes de nos abrirmos a este «grande dom do Pai»? São as questões levantadas
pelo Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta na quinta-feira 6
de outubro. De facto, o fio condutor foi uma reflexão sobre o Espírito Santo
sugerida pelas leituras do dia: o primeiro trecho (Gálatas 3, 1-5), onde
nas palavras de são Paulo se encontra «um debate teológico» dedicado ao
Espírito, que é «difícil seguir»; e o segundo (Lucas 11, 5-13), no qual
se encontra aquela que o Pontífice definiu uma «surpresa»: uma parábola, na
qual Jesus «fala da oração e no final diz: Pedi e ser-vos-á dado. Ser-vos-á
dado o Espírito, o Espírito Santo como grande dom».
Precisamente daqui
surgiu a primeira indicação de Francisco, que quis sublinhar como o Espírito
Santo seja «a promessa de Jesus» na Última ceia e «o grande dom do Pai», como
se lê na parábola: «O vosso Pai dar-vos-á o Espírito». Um Espírito que é
«também a força da Igreja». Não é por acaso, realçou o Papa, que «quando o
Espírito ainda não tinha vindo e Jesus tinha subido ao céu, estavam todos
fechados, no Cenáculo, tinham um pouco de medo e não sabiam o que fazer». Ao
contrário, «a partir do momento em que vem o Espírito, a Igreja abre-se, sai,
vai em frente e a Palavra do Senhor chega até aos confins da terra».
Portanto, disse o
Pontífice concluindo este primeiro raciocínio, o Espírito Santo é «o
protagonista da Igreja», é «o protagonista deste seguir em frente da Igreja»:
sem ele há «fechamento, medo», com ele há «coragem».
Na passagem
sucessiva da meditação foi acrescentada a provocação para cada cristão: «como é
a nossa atitude com o Espírito, come vivemos com o Espírito»?
O Papa teorizou
três respostas possíveis. A primeira faz referência à atitude dos Gálatas aos
quais são Paulo falava. «É verdade – disse o Pontífice – que todos nós
recebemos a lei, mas depois da lei o Senhor justifica-nos com a graça, com o
seu filho morto e ressuscitado». Ou seja, nos foi dado «algo mais que a Lei»,
isto é, Jesus «que dá sentido à lei». Contudo, aqueles Gálatas, mesmo se tinham
acreditado em Jesus crucificado, «depois ouviram alguns teólogos que lhes
diziam: “Não, não! A lei é lei! O que te justifica é a Lei». E assim «deixavam
Jesus Cristo de lado». Praticamente, eram «demasiado rígidos» e «para eles o
que mais contava era a lei: deve-se fazer isto, deve-se fazer aquilo». São o
mesmo tipo de pessoas que atacavam Jesus e que ele definia «hipócritas».
O que acontece em
quem raciocina deste modo? «Este apego à Lei faz ignorar o Espírito Santo» e
não deixa «que a força da redenção de Cristo siga em frente graças à obra do
Espírito». Ora bem, especificou o Pontífice, é verdade que «existem os mandamentos
e que os devemos seguir», mas sempre a partir «da graça deste dom grande que o
Pai nos ofereceu». Só assim se compreende deveras a lei, e não reduzindo «o
Espírito e o Filho à Lei».
Era precisamente
este, explicou o Papa, «o problema desta gente: ignoravam o Espírito Santo e
não sabiam ir em frente. Eram fechados, fechados nas prescrições: deve-se fazer
isto, deve-se fazer aquilo». E é a mesma tentação na qual pode cair cada
cristão: «ignorar o Espírito Santo».
Há também,
continuou Francisco, uma segunda atitude, que faz com que o Espírito Santo
se «entristeça». Neste sentido «Paulo
aos Efésios diz: “Por favor, não entristeçais o Espírito Santo!”». Mas quando é
que isto acontece? Quando, afirmou o Papa, «não deixamos que Ele nos inspire,
nos leve em frente na vida cristã; quando dizemos “Sim, sim, há o Espírito que
dá sentido à minha vida”, mas não deixamos que Ele nos diga – e não com a
teologia da lei, mas com a liberdade do Espírito – o que devemos fazer». Então
acontece que «não sabemos com qual inspiração fazemos as coisas e tornamo-nos
tíbios». Em síntese: esta é «a mediocridade cristã», que se verifica quando se
impede que o Espírito realize «a grande obra em nós».
Portanto, a
primeira atitude é a de «ignorar o Espírito Santo». É a dos doutores da lei
que, sublinhou o Pontífice, «encantam com as ideias, porque as ideologias
encantam». Com efeito, são Paulo pergunta: «Ó Gálatas insensatos, quem é que
vos fascinou?». Mas é uma reprovação válida também para todos aqueles que se
deixam enganar por «quantos pregam com ideologias» e dão a entender que para
eles tudo é claro. Ao contrário, explicou Francisco, se é verdade que a
revelação de Deus «é muito clara», é também verdade que «devemos encontrá-la no
caminho» e que «quantos pensam» ter «toda a verdade nas mãos são ignorantes».
Em segundo lugar,
corre-se o risco de entristecer o Espírito Santo. Por fim, há «a terceira
atitude», ou seja, a de «se abrir ao Espírito Santo e deixar que o Espírito nos
leve em frente». Foi quanto aconteceu aos apóstolos que no dia de Pentecostes
«perderam o medo e se abriram ao Espírito Santo». Precisamente isto é
sublinhado também no canto do Evangelho da liturgia do dia: «Abre, Senhor, o
nosso coração e acolheremos as palavras do teu Filho». O Papa explicou: «Para
compreender, para acolher as palavras de Jesus é necessário abrir-se à força do
Espírito Santo. E quando um homem, uma mulher, se abre ao Espírito Santo, é
como um barco à vela que se deixa arrastar pelo vento e vai em frente, em
frente, sem nunca mais parar».
Para viver
plenamente esta realidade, sugeriu Francisco, devemos rezar. Com efeito, é
quanto se lê também na parábola evangélica, no trecho onde o homem pede com
insistência: «Dá-me o pão. Abre a porta, dá-me o pão». E Jesus recorda: «Dado
que sois capazes de dar coisas boas aos vossos filhos, o vosso Pai não vos dará
o Espírito, o grande dom, a grande coisa boa».
O Pontífice
concluiu a meditação sugerindo que cada um se confronte com uma série de
questões: «será que ignoro o Espírito Santo?», será que «a minha vida é uma
vida pela metade, tíbia, que entristece o Espírito Santo e não deixa em mim a
força de ir em frente» ou «é uma oração constante para se abrir ao Espírito
Santo, para que Ele me leve em frente com a alegria do Evangelho e me faça
compreender a doutrina de Jesus, a verdadeira doutrina, aquela que não fascina,
a que não nos torna insensatos, mas a verdadeira» que ensina «o caminho da
salvação?».
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