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sábado, 29 de outubro de 2016

Um Encontro Encantador.

Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru

Resultado de imagem para dom caetano ferrariComo principal sentido, segundo o mestre Houaiss, a palavra “encantamento” pode ser traduzida como deslumbramento, forte emoção ou êxtase, grande admiração ou prazer que se tem diante do que se vê, se ouve, se sente. Por exemplo, quando se vê uma bela paisagem, se ouve uma boa música, se encontra com uma pessoal simpática, se vive uma experiência extraordinária reveladora de sentido, renovadora ou transformadora de vida. Como exemplo de encantamento cito Fernando Pessoa, que acabo de ler na Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, que confessou: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.  Por isso, fala-se tanto hoje da “arte de encantar-se” como um aprendizado importante para ser feliz e bem viver. Uma vida em que falte o encantamento é uma vida melancólica, sombria. 
Naturalmente não existe um viver permanentemente sob a emoção do “encantamento”. Contudo, o elemento tempo faz parte dessa experiência, ela deve impactar a vida por um bom tempo, então, o tempo conta muito; a duração do efeito deve-se mais pelo teor da qualidade do impacto do que pela sua quantidade. Uma emoção ainda que intensa, mas instantânea que logo passe e dela se esqueça, isto é, de baixo valor,  pouco ou nada marcará a vida. 
O apóstolo Lucas conta no Evangelho da Missa de hoje - Lc 19, 1-10 - o encontro entre um chefe dos cobradores de impostos, muito rico, chamado Zaqueu, e Jesus Cristo, ocorrido num certo dia em que Jesus tinha entrado na cidade de Jericó. A história é muito conhecida e tem sido comentada em prosa e verso exatamente pela exemplaridade desse encontro, como um momento de encantamento que revolucionou a vida de Zaqueu. Resumidamente, Zaqueu é aquele homem que ouvira falar de Jesus e desejava ver quem era Jesus, mas, sendo de pequena estatura, não conseguia vê-lo por causa da multidão. Então, ele seguiu à frente e subiu numa figueira sob a qual Jesus passaria. Jesus, quando chegou à figueira, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Mais do que esperava, Zaqueu desceu correndo e com alegria recebeu Jesus em sua casa. Ao ver isso, grande parte do povo murmurava escandalizada porque Jesus fora hospedar-se na casa de um pecador. Já em casa, Zaqueu, abrindo o seu coração, disse a Jesus: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Respondendo, Jesus afirmou: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. 
Consideremos Zaqueu. Foi ou não foi um encontro encantador esse que ele teve com Jesus? Ora, não é preciso muitas explicações. Lucas foi sucinto na descrição do impacto que o encontro com Jesus provocou em Zaqueu: Reconheceu-se pecador, prometeu distribuir metade dos seus bens aos pobres e a devolver quatro vezes o que roubou. Jesus, por sua vez, sacramentou o arrependimento e confissão de Zaqueu com a graça da salvação e lhe reconheceu a dignidade de filho de Abraão. Eis aí um encontro deslumbrante, salvador, que certamente marcou para sempre a vida desse homem. 
Como o médico está aí para curar os doentes e não para tratar dos sadios, Jesus disse mais de uma vez que o Filho do Homem veio para procurar e salvar os que estavam perdidos. Por isso, Ele priorizou encontrar-se com os pecadores, comer com os publicanos, acolher as prostitutas, ir atrás das ovelhas desgarradas, socorrer os aflitos. Jesus admoestou as multidões a amar os inimigos, fazer o bem aos que fazem o mal, bendizer os que amaldiçoam, orar por aqueles que difamam (cf. Lc 6, 27-35). Disse ainda: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não serdes julgados. Não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado. Dai e vos será dado. Será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também” (Lc 6, 36-38). 
O Papa Francisco vem convidando os cristãos a renovar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele. Assim se expressou na “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho), insistindo em dizer que a “Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração” (n: 14). Crescer por atração é o mesmo que por encantamento, deslumbramento, alegria de conhecer e amar a Jesus Cristo. Assim sendo, o Papa Francisco segue a linha de pensamento do seu antecessor, o Papa Bento, e cita esse Papa que disse: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma o rumo decisivo” (Deus Caritas est, 1). O Documento de Aparecida também afirma que o encontro pessoal com Jesus é fundamental: “Jesus precisa ser encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado” (n 14). O discípulo deve ser alguém fascinado por Jesus. A fascinação de Zaqueu por Jesus nasceu desse seu encontro encantador com Jesus.

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