Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
Semana Nacional da Família, de 14 a 21
de agosto, inicia com a comemoração do dia dos pais. Neste ano,
inserida no Jubileu da Misericórdia, traz um tema muito sugestivo:
Misericórdia na família, dom e missão. A Pastoral Familiar das dioceses
do Rio Grande do Sul apresenta às famílias uma reflexão, da qual quero
fazer eco. Parte da conhecida parábola do Pai Misericordioso e seus dois
filhos (cf. Lc 15,11-32). As relações que se estabelecem entre os dois
filhos e destes com seu pai, são um espelho, a partir do qual podemos
ler nossa vida pessoal e também familiar. Neste relato de Jesus,
conseguimos perceber os conflitos familiares e, também, o lugar único
que o pai assume na família.
A figura do filho mais novo é, talvez, a
mais evidente, mesmo que não a mais importante da parábola. Ele teve um
“lar”. Lar é o centro do ser, onde escutamos: “Tu és o meu filho muito
amado”. Entendemos por “lar” o ambiente favorável para a educação e
crescimento humano, valores, religião e profissão. A ele não faltou
acolhida, o afeto e os bens. Porém, abandona a família. É ingrato. O
filho mais novo espelha a rebeldia da sociedade atual que, com
frequência, despreza as instituições, principalmente, talvez a mais
sagrada de todas, a família. Procura outros caminhos. Despreza a
herança. Joga fora a lei inscrita no coração humano: que a vida inicia e
se forma no seio acolhedor de uma família. Ou, então, revela o vírus do
individualismo que atinge o centro da vida familiar, quando mesmo
convivendo no mesmo teto, leva-se uma vida isolada, longe um do outro.
O filho mais velho, legalmente certo,
mas duro, incapaz de amar, de perdoar, calculista e frio. Incapaz de
misericórdia, pois não se deixa amar. Prepotente e autocentrado. A
parábola diz que o pai “sentiu compaixão” e o filho mais velho “ficou
com raiva” quando o filho mais novo retornou. Vive a lógica da
recompensa. Estabelece relações não baseadas na gratuidade, mas como
busca méritos pelas suas obras. Infelizmente, ocorre que na família
algum filho se ache “superior” aos demais. Como é triste quando os
filhos não se perdoam. Uma chaga se abre no coração dos pais. O filho
mais velho nunca abandonou a casa, mas seu coração estava sempre longe.
Vivia na lógica da justiça e da retribuição, não da gratuidade e da
misericórdia. Por isso, não consegue sentir alegria, não compreende esta
lógica de ser e de agir do pai. Não sabe amar. O amor sempre perdoa e
acolhe.
Sem dúvidas, a figura do Pai da parábola
é de Deus Pai, que é modelo para os pais. Ele é chamado por Jesus de
Pai, porém, reflete em si as características paternas e maternas. A
boa-notícia é que temos um Pai. Só o amor misericordioso de Deus nos
reconstrói por dentro, destravando-nos, colocando-nos em movimento de
acolhida, sem nos humilhar. A figura paterna na família dá a garantia da
segurança e fidelidade aos valores. O pai não é figura do censor
autoritário, como algumas vezes ainda pode existir nas famílias, mas a
fonte de amor e misericórdia, única possibilidade para uma educação para
a maturidade humana e cristã. Ele continua a amar, mesmo existindo a
imaturidade do filho mais novo ou a frieza do filho mais velho. Não há
limites para o amor generoso de Deus Pai. A misericórdia está na base da
convivência familiar.
Convido a todas as famílias da Diocese a
lerem, aprofundarem e refletirem o subsídio que foi preparado para esta
Semana da Família. Continuemos a crer e apostar na família. Parabéns a
todos os pais! Deus Pai seja sempre fonte de inspiração e os abençoe
abundantemente.
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