Papa Francisco tem falado de ações práticas no contexto do Ano da Misericórdia
“A
ação de Deus é ir sempre em busca dos filhos perdidos e, em seguida,
fazer festa e se alegrar com eles por tê-los encontrado. É um desejo
ardente: nem mesmo noventa e nove ovelhas podem parar o pastor e
mantê-lo fechado no redil”, meditou o papa Francisco na catequese da
quarta-feira, 4 de maio. A praça de São Pedro, no Vaticano, acolheu
milhares de peregrinos que participaram do encontro semanal com o papa.
A
passagem bíblica do Evangelho de Lucas, sobre a ovelha perdida, motivou
a reflexão. “Devemos refletir muitas vezes sobre esta parábola, porque
na comunidade cristã há sempre alguém que está faltando, que se foi,
deixando o lugar vazio. Às vezes isso é difícil e nos leva a crer que é
uma perda inevitável, uma doença incurável. E então corremos o perigo de
nos fecharmos em um redil, onde haverá não o cheiro das ovelhas, mas
cheiro de mofo!”, disse Francisco.
Catequese do Papa Francisco
4 de maio de 2015
A ovelha perdida (Lc 15,1-7)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Todos
nós conhecemos a imagem do Bom Pastor que leva nos ombros a ovelha
perdida. Este ícone sempre representou a preocupação de Jesus para com
os pecadores e a misericórdia de Deus que não quer perder ninguém. A
parábola é contada por Jesus para fazer as pessoas entenderem que sua
proximidade com os pecadores não deve escandalizar, mas provocar em
todos uma séria reflexão sobre a forma como vivemos a nossa fé. A
história tem, de um lado, os pecadores que se aproximam de Jesus para
ouvi-lo e, de outro, os doutores da lei, os escribas que se desviam Dele
por causa de seu comportamento. Eles desviam porque Jesus se aproximou
dos pecadores. Estes eram orgulhosos, soberbos, se achavam justos.
Nossa
parábola se desenrola em torno de três personagens: o pastor, a ovelha
perdida e o resto do rebanho. Mas quem age é só o pastor, não as
ovelhas. O pastor, então, é o único protagonista e tudo depende dele.
Uma pergunta introduz a parábola: “Qual de vós, tendo cem ovelhas e
perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da
que se perdeu, até encontrá-la?” (V. 4). É um paradoxo que leva a
duvidar da ação do pastor: é aconselhável deixar noventa e nova por
causa de uma ovelha? E não seria no aprisco das ovelhas, mas no deserto.
Segundo
a tradição bíblica, o deserto é um lugar de morte, onde é difícil
encontrar comida e água, sem abrigo e à mercê das feras e ladrões. O que
podem fazer noventa e nove ovelhas indefesas? O paradoxo continua, no
entanto, dizendo que o pastor, quando encontra a ovelha”, coloca-a em
seus ombros, vai para casa, convoca os amigos e vizinhos e lhes diz:
Alegrai-vos comigo” (v. 6).
Parece,
portanto, que o pastor não volta para o deserto para recuperar todo o
rebanho! Esforçando-se para encontrar aquela ovelha parece esquecer as
outras noventa e nove. Mas, na realidade não é assim. O ensinamento que
Jesus quer nos dar é que nenhuma ovelha pode ser perdida. O Senhor não
pode resignar-se ao fato de que mesmo uma pessoa possa se perder.
A
ação de Deus é ir sempre em busca dos filhos perdidos e, em seguida,
fazer festa e se alegrar com eles por tê-los encontrado. É um desejo
ardente: nem mesmo noventa e nove ovelhas podem parar o pastor e
mantê-lo fechado no redil. Ele pode raciocinar assim: “Eu faço o
orçamento: noventa e nove, eu perdi uma, então não é uma grande perda”.
Mas ele vai à procura daquela, porque cada uma é muito importante para
ele e aquela é a mais necessitada, a mais abandonada, o mais rejeitada; e
ele vai procurá-la.
Somos
aconselhados: a misericórdia para com os pecadores é o estilo com o
qual Deus age e que a misericórdia e Ele é absolutamente fiel. Ninguém e
nada pode distraí-lo de sua vontade salvífica. Deus não conhece a nossa
cultura atual do descarte, Deus não está envolvido nisso. Deus não
descarta ninguém; Deus ama a todos, busca a todos: um por um! Ele não
conhece essa palavra: “descartar as pessoas”, porque é todo amor e
misericórdia.
O
rebanho do Senhor está sempre a caminho: ele não possui o Senhor. Não
podemos nos iludir que iremos aprisioná-lo em nossos planos e
estratégias. O pastor será encontrado onde está a ovelha perdida. O
Senhor, então, deve ser procurado onde Ele quer nos encontrar, não onde
pretendemos encontrá-lo!
De
nenhum outro modo você pode recobrar o rebanho senão seguindo o caminho
traçado pela misericórdia do pastor. Enquanto procura a ovelha perdida,
ele faz com que as noventa e nove participem da reunificação do
rebanho. Então não só a ovelha carregada no ombro, mas todo o rebanho
vai seguir o pastor à sua casa para comemorar com os “amigos e
vizinhos.”
Devemos
refletir muitas vezes nesta parábola, porque na comunidade cristã há
sempre alguém que está faltando, que se foi, deixando o lugar vazio. Às
vezes isso é difícil e nos leva a crer que é uma perda inevitável, uma
doença incurável. E então corremos o perigo de nos fecharmos em um
redil, onde haverá não o cheiro das ovelhas, mas cheiro de mofo!
E
os cristãos? Nós não devemos ser fechados, porque vamos ter o cheiro de
coisas fechadas. Nunca! Você tem que sair e não se fechar em si mesmos,
em pequenas comunidades, nas paróquias, considerando-se “os justos”.
Isso acontece quando falta o impulso missionário que nos leva ao
encontro dos outros.
Na
visão de Jesus não existem, definitivamente, ovelhas perdidas, mas
ovelhas que serão encontradas. Isso devemos compreender bem: para Deus
ninguém está perdido para sempre. Nunca! Até o último momento, Deus nos
procura. Lembre do bom ladrão; mas apenas na visão de Jesus ninguém está
perdido para sempre. A perspectiva, portanto, é dinâmica, aberta,
estimulante e criativa.
Ele
exorta-nos a sair em busca de um caminho de fraternidade. Nenhuma
distância pode manter o pastor longe; e nenhum rebanho pode desistir de
um irmão. Encontrar aquele que estava perdido é a alegria do pastor e de
Deus, mas também a alegria de todo o rebanho! Somos todos ovelhas
encontradas e recolhidas pela misericórdia do Senhor, chamados a reunir
juntamente com Ele todo o rebanho!
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