Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
No segundo domingo do mês de Maria,
maio, nós comemoramos no Brasil o Dia das Mães. Nestes tempos de
“mudança de época” nunca teria imaginado que falar sobre a maternidade
fosse um dia ser um perigo de não estar “politicamente correto”. Parecia
ser algo tão conatural à vida humana e, ao mesmo tempo, tão
significativo para a sociedade, que lutamos para ser cada vez mais
fraterna e unida. Portanto, neste tempo que é dedicado à nossa mãe
comum, Maria, é importante também refletir e homenagear nossas mães.
Ser mãe é ser sinônimo de: afeto,
carinho, amor, aconchego, doação e todos os qualitativos que existem,
que servem para designar estas que criam com amor e doação os seus
queridos filhos. Uma boa maneira de contemplar este tempo é trazer
exemplos de mães que foram mulheres de misericórdia, para celebrar o
jubileu extraordinário neste ano santo: a Bem-Aventurada Virgem Maria,
Santa Zélia Martin e Zilda Arns.
Jesus Cristo, Deus feito homem, é a
plena expressão da misericórdia divina, manifestada de muitas maneiras
ao longo da história da salvação. O Senhor entregou-se na Cruz num ato
supremo de Amor misericordioso, e agora exerce esse amor compassivo do
Céu e no Sacrário. Jesus, no alto da Cruz, entrega sua Mãe aos cuidados
de João, e, assim João a Virgem Maria. Nesse momento, Maria assume a
Maternidade da humanidade. Ela foi exemplo de mãe, soube muito bem criar
o seu Divino Filho. Deu amor a Ele, educou-O e assim deixou livre para
que Ele fizesse a vontade do Pai. A nossa Mãe Santa Maria alcança-nos
continuamente a compaixão do seu Filho e nos ensina o modo de nos
comportamos em face das necessidades próprias e alheias.
Maria “é aquela que conhece mais a fundo
o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe como é
elevado. Neste sentido, chamamo-la Mãe de Misericórdia, Nossa Senhora da
Misericórdia ou Mãe da Divina Misericórdia. Em cada um desses títulos
encerra-se um profundo significado teológico, porque todos eles exprimem
a particular preparação da sua alma, de toda a sua pessoa, que lhe
permitiu ver – primeiro, através daqueles que dizem respeito a cada um
dos homens e à humanidade inteira – aquela misericórdia da qual todos
participamos, segundo o eterno desígnio da Santíssima Trindade, de
geração em geração” (cf. Lc 1, 50).
Em Maria, a misericórdia une-se à
piedade de mãe; Ela nos conduz sempre ao Trono da graça. O título de Mãe
de Misericórdia, alcançado com o seu “fiat” – faça-se – em Nazaré e no
Calvário, é um dos seus maiores e mais belos nomes. Maria é o nosso
consolo e a nossa segurança: “Com o seu amor maternal, cuida dos irmãos
do seu Filho que ainda peregrinam e se acham em perigos e ansiedades até
que sejam conduzidos à pátria celestial”. “Por este motivo, a
Santíssima Virgem é invocada na Igreja com os títulos de Advogada,
Consoladora, Auxiliadora, Socorro, Medianeira”. “Nem um só dia a Virgem
deixou de, como mãe, ajudar-nos, de proteger-nos, de interceder pelas
nossas necessidades”.
Um belo exemplo é também o de Santa
Zélia Martin, mãe da padroeira das missões: Santa Teresinha do Menino
Jesus. Fora mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus e de mais quatro
meninas, todas elas foram religiosas. Mas, como ela conseguiu uma
família tão apaixonada por Jesus assim? Um dia de cada vez. Quando
Teresa nasceu Zélia orou, como sempre fazia quando nascia um filho seu:
“Senhor, concedei-me a graça de que ela vos seja consagrada e de nada
vir a manchar a pureza de sua alma. Se há de perder-se um dia, prefiro
que a leveis imediatamente para o Céu”. Zélia já tinha 41 anos quando
Teresa nasceu. Parecia cansada e o pai, seu Louis, andava preocupado.
Pudera! Com aquela dor no seio que a impedia de amamentar… Zélia
escreveu para sua irmã: “Se Nosso Senhor me concedesse a graça de poder
amamentar, que prazer seria para mim”! Zélia vivia escrevendo para sua
filha Paulina, que morava no colégio onde estudava, contando as
travessuras de Teresa. Coisas do tipo: “Querida Paulina, ainda não
completou dois anos e já fala quase tudo, reza como um anjinho e canta
pequenas musiquinhas… Teresa escapou e disse que estava indo à Missa…
Está com gripe… Só tem dois anos e diz que quer ser religiosa…”. Ela foi
grande exemplo de mãe, tanto que com seu amor a Jesus conseguiu
entregar suas filhas ao Coração do Senhor misericordioso.
Um exemplo bem perto de nós foi Dra.
Zilda Arns Neumann. Foi médica pediatra e sanitarista, fundadora e
coordenadora internacional da Pastoral da Criança, fundadora e
coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa – organismos de ação
social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dra. Zilda
Arns também foi representante titular da CNBB, no Conselho Nacional de
Saúde, e ainda membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (CDES). Nascida em Forquilhinha (SC), residia em Curitiba (PR),
mãe de cinco filhos e avó de dez netos. Escolheu a medicina como missão e
enveredou pelos caminhos da saúde pública. Foi em 1983 que, a pedido da
CNBB, a Dra. Zilda Arns criou a Pastoral da Criança juntamente com Dom
Geraldo Majela Agnello, Cardeal Arcebispo Primaz de São Salvador da
Bahia, que na época era Arcebispo de Londrina. Como Mãe foi exemplo de
amor, de fé e doação. Ela é considerada a grande mãe daqueles que
sofrem. Soube em vida unir a profissão e a missão, tanto que era tão
dedicada que morreu fazendo missão àqueles que mais precisam. Foi a mãe
das crianças de uma pastoral que mudou o Brasil.
Portanto, nesse dia queremos agradecer a
Deus por todas as mães. Temos vários exemplos de mães trabalhadoras e
dedicadas aos seus filhos. Ao recordarmos dos três exemplos acima, sem
dúvida colocamos as nossas mães e tantos outros exemplos que temos de
mulheres trabalhadoras e mães exemplares. Peço à Mãe da Misericórdia que
olhe para cada mãe e, lhes dê, assim, a graça de sempre educar seus
filhos no caminho do Mestre-Jesus.
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