No
último dia 08 de abril foi apresentada a toda a Igreja a tão esperada
carta do Papa Francisco sobre a família. Ela foi preparada por dois
sínodos dos bispos, em 2014 e 2015. Houve uma ampla participação de toda
a Igreja, apresentando sugestões e inquietações sobre a complexa
situação da família hoje. Apresento alguns pontos que poderão servir
para nossas famílias, comunidades e a Pastoral Familiar acolher o
documento, certos de que, como disse o Papa, "não existem simples
receitas".
Em primeiro lugar o título da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia (a alegria do amor), oferece a perspectiva de
um olhar positivo sobre a família. "O anúncio cristão que diz respeito à
família é deveras uma boa notícia." (AL 1). E continua dizendo que as
famílias "não são um problema, são sobretudo uma oportunidade." (AL 7).
O Santo Padre, seguindo o caminho
realizado nos dois sínodos que precederam a Exortação, mantém sempre um
olhar realista e concreto sobre a família. Percebe-se um desejo de
proximidade da realidade familiar como ela se apresenta, evitando
abstrações. Reconhece que, às vezes, "apresentamos um ideal teológico do
matrimônio demasiado abstrato, construído quase artificialmente,
distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias
tais como são". (AL 36).
Por isso, sugere que apresentemos o
matrimônio "como um caminho dinâmico de crescimento" (AL 37). É a
compreensão da realidade familiar como um processo de construção
permanente, tendo o ideal diante de si. "Nenhuma família é uma realidade
perfeita e confeccionada de uma vez para sempre, mas requer um
progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar." (AL 325). Esta
compreensão, "impede-nos de julgar com dureza aqueles que vivem em
condições de grande fragilidade". (AL n.325). Porém, nos convida a
avançar: "Avancemos, famílias: continuemos a caminhar!" (AL 325).
O olhar pastoral está presente em todo o
texto e atinge seu ponto mais delicado e complexo quando propõe aos
bispos e padres, ao mesmo tempo, a clareza doutrinal para evitar
confusões e a atenção à complexidade das situações particulares. "Por
isso, ao mesmo tempo que se exprime com clareza a doutrina, há que se
evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes
situações e é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e
sofrem por causa da sua condição." (AL 79). Sobretudo no capítulo
oitavo, trata de como "acompanhar, discernir e integrar" as feridas ou
situações de fragilidade existentes nas famílias. Por isso, impõe-se o
necessário discernimento pastoral para cada caso específico, na "lógica
da misericórdia pastoral", que acompanha "com misericórdia e paciência
as possíveis etapas de crescimento das pessoas, que vão se construindo
dia após dia". (AL 308). Parte do princípio que ninguém deve se sentir
excluído ou excomungado. Fala diretamente aos divorciados e recasados,
que "devem ser integrados mais intensamente nas comunidades cristãs" (AL
299) e "sua participação pode manifestar-se em diferentes serviços
eclesiais". (AL 299). Este discernimento é a exigente e delicada missão
dos sacerdotes (cf. AL 300), que deve levar em conta os condicionamentos
e as circunstâncias atenuantes. "Por isso, já não é possível dizer que
todos os que estão em uma situação chamada 'irregular' vivem em estado
de pecado mortal, privados da graça santificante." (AL 301).
Enfim, convido, sobretudo aos casais,
pais e mães de família e aos jovens namorados a lerem e conhecerem estas
belas reflexões do Santo Padre sobre a realidade familiar.
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)
Bispo de Cruz Alta (RS)
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