Cidade
do Vaticano (RV) – Milhares de educadores e estudantes de todo o mundo
se reuniram com o Papa Francisco na manhã de sábado (21/11) na Sala
Paulo VI, no Vaticano, no encerramento do Congresso Mundial promovido
pela Congregação para a Educação Católica.
A modalidade do encontro foi de
testemunhos e perguntas feitas por estudantes e professores e respostas
por parte do Pontífice, que não tinha um discurso pronto. Para
Francisco, não se pode falar de educação católica sem falar de humanismo.
Transcendência
“Educar de modo cristão não é fazer uma catequese, proselitismo, é
levar avante os jovens e as crianças nos valores humanos em toda a
realidade. E uma dessas realidades é a transcendência”, disse o Papa,
que considera o fechamento à transcendência a maior crise educacional.
O Pontífice lamentou a educação
seletiva e elitista. “Parece que têm direito à educação os povos que tem
certo nível, certa capacidade. Mas certamente não têm direito à
educação todas as crianças. Esta é uma realidade mundial que nos
envergonha, que nos leva rumo a uma seletividade humana que, ao invés de
aproximar os povos, os afasta. Afasta os ricos dos pobres, uma cultura
de outra.”
O Papa falou ainda do fenômeno da
exclusão, que leva à ruptura do pacto educativo entre a família e a
escola, entre a família e o Estado. “Os trabalhadores mais mal pagos são
os educadores. Isso significa que o Estado não tem interesse”,
criticou.
Um grande pensador brasileiro
Para ele, o trabalho do educador é buscar novos caminhos na educação
informal, como as artes e os desportos. E o Papa chamou em causa os
brasileiros, citando implicitamente Paulo Freire:
“Um grande educador brasileiro dizia
que na escola formal devia-se evitar cair somente num ensino de
conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, hábitos e
valores. Quando uma escola não é capaz de fazer isso, esta escola é
seletiva, exclusiva e para poucos”, disse Francisco, acrescentando que o
critério de seleção puramente racional tem como base “o fantasma do
dinheiro”.
Quanto à figura do educador, o Pontífice considera que este deve saber arriscar; caso contrário, não pode educar.
“Arriscar significa ensinar a
caminhar, ensinar que uma perna deve estar firme e, a outra, deve tentar
avançar. Educar é isto. O verdadeiro educador deve ser mestre de risco,
mas de risco consciente.”
Periferias
Francisco falou ainda da necessidade de ir às periferias. No campo
educativo, afirmou, significa acompanhar os alunos no crescimento, não
somente fazer beneficência e dar de comer e ensinar a ler. Significa
segurar pelas mãos e caminhar juntos, fazer com que os jovens de
periferia, feridos em sua humanidade, “cresçam em humanidade, em
inteligência, em valores e em hábitos”.
“A maior falência de um educador é
educar ‘dentro dos muros’: muros de uma cultura seletiva, muros de uma
cultura de segurança, os muros de um setor social elevado.”
Por fim, o Papa deu como “lição de
casa” aos presentes que repensem as obras de misericórdia na educação.
“Como posso fazer para que este Amor do Pai, que é especialmente
ressaltado neste Ano da Misericórdia, chegue às nossas obras
educativas?”
O Pontífice concluiu agradecendo aos
educadores “mal pagos” por tudo o que fazem, encorajando-os a
prosseguirem. “Devemos reeducar tantas civilizações!”
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