Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
O Papa Francisco, com a realização do
Sínodo sobre a Família, acende tocha que torna clara uma necessidade:
todos devem cuidar e investir mais na família, célula vital para a
sociedade. As reflexões no âmbito da compreensão antropológica têm
grande importância, particularmente quando são afrontados conceitos e
posicionamentos advindos dos desvios cultivados na impostação da
ideologia de gênero. Uma temática que precisa ser bem acompanhada,
discutida e esclarecida para que não se entre em “canoa furada”. Não se
pode permitir a desconstrução da compreensão antropologicamente
compreendida e consolidada sobre o que é a família, fundamentada nos
princípios inegociáveis da profissão da fé cristã.
Todos devem se empenhar nesse sentido
para que descompassos não sejam introduzidos nos processos de educação e
na opinião pública. Também importante é a corajosa voz da Igreja e dos
cristãos em sintonia com outros segmentos que professam os mesmos
valores insubstituíveis, fonte de disciplinas e ritos que não podem ser
relativizados, pois se localizam em horizontes do direito natural e das
verdades da fé, com bases no Evangelho.
Assim, a energia que deve ser investida
de modo prioritário não pode, simplesmente, se restringir na reafirmação
contínua em torno do que não se muda. É preciso proporcionar a
assimilação e prática desses princípios e valores. Essas são tarefas
irrenunciáveis da Igreja, sem contemporizações. Obrigações que incluem
muitos outros entendimentos importantes para que se alcance a
consideração da família como a primeira escola da fé no âmbito
importante da missão evangelizadora da Igreja. A tarefa diária é fazer
da família, efetivamente, célula vital para a construção de uma
sociedade melhor. Eis o desafio, a ser enfrentado com a clarividência
conceitual, a partir de contribuições imprescindíveis da doutrina da fé,
do inconfundível sentido e alcance antropológico do que é família, sem
inovações “facilitadoras” e até mesmo permissivas.
A família é a primeira sociedade natural
e tem que estar no centro da dinâmica social. O risco de relegá-la a um
papel subalterno é a produção de um gravíssimo dano ao autêntico
crescimento da sociedade. Ora, a família é o fundamento da vida das
pessoas e, consequentemente, o inigualável modelo de todo o ordenamento
da civilização. Absolutamente nenhuma experiência ou organização se
compara com a singularidade própria da instituição familiar,
determinante na formatação do caráter, do desenvolvimento de
competências emocionais e subjetivações, no enraizamento de vivências
que nutrem cidadanias. Bastaria pensar, entre outros aspectos ricos e
variados, a aprendizagem da capacidade de se relacionar, própria do
contexto familiar - o reconhecimento da importância do outro.
No horizonte dos mais variados segmentos
sociais, incluindo governos e instituições diversas, faz-se necessária
uma interpelação. Quais investimentos são realizados em benefício da
família, instituição estratégica no enfrentamento da violência, da
cultura da corrupção e da imoralidade? A instituição familiar necessita
de mais atenção. Sem novas atitudes em sua defesa, não será possível a
qualificação do tecido social. Bobagens vão se multiplicar e as
perspectivas continuarão sombrias. Não menos desafiadora é a tarefa da
Igreja, que deve buscar práticas pedagógicas e experienciais novas,
capazes de consolidar cada vez mais a instituição familiar como primeira
escola da fé. O Papa Francisco convoca todos a fortalecerem a chama da
família, tocha acesa que ilumina os passos da sociedade.
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