Ecologia e Desastre:
Estamos todos alarmados com o terrível
acidente ecológico acontecido no município de Mariana, na semana que
findou. Uma avalanche de lama rompe uma barragem e vem arrastando tudo
pela frente, causando muita destruição, ceifando vidas humanas e
provocando ferimentos e perigo a inúmeras pessoas que nada tinham a ver
com os rendosos projetos de mineração da região. Lemos testemunhos
chocantes de cidadãos e cidadãs que nos dão a dimensão do problema
causado, dos sofrimentos de quem perdeu tudo ou quase tudo. Quem vai
ressarcir dignamente os bens materiais das famílias, da comunidade e dos
indivíduos? Quem poderá pagar pelos falecidos? Nenhum dinheiro do mundo
é suficiente para reparar a falta de um filho, de uma mãe, pai, parente
ou amigo! Tais perguntas e exclamações se justificam sobejamente, pois
sabemos bem o que aconteceu com as pessoas prejudicadas por desastres
ecológicos anteriores, estando até hoje as vítimas a "ver navios". As
leis existem para conter a ganância das empresas de exploração, para
proteger a natureza, porém, não é novidade para ninguém que elas
funcionam apenas em alguns casos, não são observadas em outros, e que o
rigor com o controle ambiental tem sido praticado apenas até que as
propinas e outros arranjos de interesse não chegam, favorecendo para
empreiteiras e a particulares inescrupulosos. Esse é mais um capítulo da
dolorosa novela da corrupção praticada em nosso país, com a
participação de gente grande e poderosa.
O cuidado com a natureza, com a Casa
Comum da humanidade, no dizer do Papa Francisco, é algo urgente,
sobretudo no que diz respeito ao desmatamento, à agressão às montanhas
de mineração, à poluição das águas e do ar, pois tudo isso é ameaça à
raça humana, à vida animal no globo terrestre e, enfim, a toda a
natureza.
Queremos pôr nossa voz em consonância
com o Papa Francisco que afirmou em sua recente Encíclica Laudato Si:
"Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por
resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos
mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança;
interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem
pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos. (LS
13)
Sobre a negligência política, urge o
Papa com as seguintes palavras: "O drama duma política focalizada nos
recursos imediatos, apoiada também por populações consumistas, torna
necessário produzir crescimento, a curto prazo. Respondendo a interesses
eleitorais, os governos não se aventuram facilmente a irritar a
população com medidas que possam afetar o nível de consumo ou pôr em
risco investimentos estrangeiros. A construção míope do poder freia a
inserção duma agenda ambiental com visão ampla da agenda pública dos
governos. " (LS 178)
Não se pode terminar a reflexão, sem um
voto de louvor à população que faz gestos de animadora solidariedade com
os vitimados pelos desastres ecológicos, oferecendo socorro imediato,
casas, roupa, alimento, água e tantos outros recursos, demonstrando
verdadeira maturidade humana e cristã.
Quem puder ajudar, não se recuse, e com a
mesma atenção, lute para vencer a guerra empreendida pelos humanos
contra si mesmos quando descuidam do meio ambiente criado por Deus para
nós todos.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de For
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