O
23º Dia Mundial do Doente será celebrado nesta quarta-feira, 11 de
fevereiro, festividade da Virgem de Lourdes. Por ocasião da data, o papa
Francisco enviou mensagem, em que recorda ser preciso cuidar das
pessoas doentes. "A
caridade precisa de tempo. Tempo para cuidar dos doentes e tempo para
os visitar. Tempo para estar junto deles", disse Francisco.
A celebração foi instituída pelo papa João Paulo II em 1992. A mensagem oficial foi divulgada pelo Vaticano em 30 de dezembro do ano passado.
Leia, na íntegra, o texto:
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O XXIII DIA MUNDIAL DO DOENTE
PARA O XXIII DIA MUNDIAL DO DOENTE
«Sapientia cordis. “Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (Jó 29, 15)»
Queridos irmãos e irmãs,
Por
ocasião do XXIII Dia Mundial do Doente, instituído por São João Paulo
II, dirijo-me a todos vós que carregais o peso da doença,
encontrando-vos de várias maneiras unidos à carne de Cristo sofredor,
bem como a vós, profissionais e voluntários no campo da saúde.
O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó: «Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo» (29, 15). Gostaria de o fazer na perspectiva da «sapientia cordis», da sabedoria do coração.
1. Esta sabedoria não é um
conhecimento teórico, abstrato, fruto de raciocínios; antes, como a
descreve São Tiago na sua Carta, é «pura (…), pacífica, indulgente,
dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem
hipocrisia» (3, 17). Trata-se, por conseguinte, de uma disposição infundida pelo Espírito Santo na
mente e no coração de quem sabe abrir-se ao sofrimento dos irmãos e
neles reconhece a imagem de Deus. Por isso, façamos nossa esta invocação
do Salmo: «Ensina-nos a contar assim os nossos dias, / para podermos
chegar à sabedoria do coração» (Sal 90/89, 12). Nesta sapientia cordis, que é dom de Deus, podemos resumir os frutos do Dia Mundial do Doente.
2. Sabedoria do coração é servir o irmão.
No discurso de Jó que contém as palavras «eu era os olhos do cego e
servia de pés para o coxo», evidencia-se a dimensão de serviço aos
necessitados por parte deste homem justo, que goza de uma certa
autoridade e ocupa um lugar de destaque entre os anciãos da cidade. A
sua estatura moral manifesta-se no serviço ao pobre que pede ajuda, bem
como no cuidado do órfão e da viúva (cf. 29, 12-13).
Também hoje quantos cristãos dão
testemunho – não com as palavras mas com a sua vida radicada numa fé
genuína – de ser «os olhos do cego» e «os pés para o coxo»! Pessoas que
permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de
ajuda para se lavar, vestir e alimentar. Este serviço, especialmente
quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é
relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de
uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é
capaz de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é
este! Em tais momentos, pode-se contar de modo particular com a
proximidade do Senhor, sendo também de especial apoio à missão da
Igreja.
3. Sabedoria do coração é estar com o irmão.
O tempo gasto junto do doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que
nos configura à imagem do seu Filho, que «não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão» (Mt 20, 28). Foi o próprio Jesus que o disse: «Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 27).
Com fé viva, peçamos ao Espírito Santo
que nos conceda a graça de compreender o valor do acompanhamento, muitas
vezes silencioso, que nos leva a dedicar tempo a estas irmãs e a estes
irmãos que, graças à nossa proximidade e ao nosso afeto, se sentem mais
amados e confortados. E, ao invés, que grande mentira se esconde por
trás de certas expressões que insistem muito sobre a «qualidade da vida»
para fazer crer que as vidas gravemente afetadas pela doença não
mereceriam ser vividas!
4. Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão.
Às vezes, o nosso mundo esquece o valor especial que tem o tempo gasto à
cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesi do
fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar
cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por detrás desta atitude,
há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz:
«a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).
Por isso, gostaria de recordar uma vez
mais a «absoluta prioridade da “saída de si próprio para o irmão”, como
um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e
como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento
espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus» (Exort.
ap. Evangelii gaudium, 179). É da própria natureza missionária
da Igreja que brotam «a caridade efetiva para com o próximo, a compaixão
que compreende, assiste e promove» (Ibid., 179).
5. Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem o julgar.
A caridade precisa de tempo. Tempo para cuidar dos doentes e tempo para
os visitar. Tempo para estar junto deles, como fizeram os amigos de Jó:
«Ficaram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem
lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande» (Job 2,
13). Mas, dentro de si mesmos, os amigos de Jó escondiam um juízo
negativo acerca dele: pensavam que a sua infelicidade fosse o castigo de
Deus por alguma culpa dele. Pelo contrário, a verdadeira caridade é
partilha que não julga, que não tem a pretensão de converter o outro;
está livre daquela falsa humildade que, fundamentalmente, busca
aprovação e se compraz com o bem realizado.
A experiência de Jó só encontra a sua
resposta autêntica na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de
Deus para conosco, totalmente gratuito, totalmente misericordioso. E
esta resposta de amor ao drama do sofrimento humano, especialmente do
sofrimento inocente, permanece para sempre gravada no corpo de Cristo
ressuscitado, naquelas suas chagas gloriosas que são escândalo para a
fé, mas também verificação da fé (cf. Homilia na canonização de João XXIII e João Paulo II, 27 de Abril de 2014).
Mesmo quando a doença, a solidão e a
incapacidade levam a melhor sobre a nossa vida de doação, a experiência
do sofrimento pode tornar-se lugar privilegiado da transmissão da graça e
fonte para adquirir e fortalecer a sapientia cordis. Por isso
se compreende como Jó, no fim da sua experiência, pôde afirmar
dirigindo-se a Deus: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas
agora vêem-Te os meus próprios olhos» (42, 5). Também as pessoas imersas
no mistério do sofrimento e da dor, se acolhido na fé, podem tornar-se
testemunhas vivas duma fé que permite abraçar o próprio sofrimento,
ainda que o homem não seja capaz, pela própria inteligência, de o
compreender até ao fundo.
6. Confio este Dia Mundial do
Doente à proteção materna de Maria, que acolheu no ventre e gerou a
Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Ó Maria, Sede da Sabedoria, intercedei
como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam deles. Fazei que
possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria
experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira
sabedoria do coração.
Acompanho esta súplica por todos vós com a minha Bênção Apostólica.
Franciscus
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