"Os filhos são a alegria da família e da
sociedade, não é um problema de biologia reprodutiva, nem um modo de
realizar-se, nem uma posse dos pais; os filhos são um dom, um presente",
disse Francisco.
Motivou os filhos a nunca deixar de
reconhecer os valores de sua família e honrar o pai e a mãe, como ensina
o quarto mandamento. "Uma sociedade de filhos que não honram os pais é
uma sociedade sem honra; quando não se honra os pais se perde a própria
honra".
O papa mencionou ainda na catequese a
realidade de pais que não querem ter filhos, que contribuem para uma a
formação de uma sociedade deprimida. Na ocasião, citou, por exemplo, a
realidade da Europa, onde a taxa de nascimento não chega a 1%. Recordou,
também, a Encíclica Humanae vitae, do beato Paulo VI, que dizia que ter
mais filhos não pode se tornar automaticamente uma escolha
irresponsável. Mas não ter filhos é uma escolha egoísta. "A vida
rejuvenesce e conquista energia multiplicando-se", disse o papa.
Confira a íntegra da catequese:
CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Depois de ter refletido sobre as figuras
da mãe e do pai, nestas catequeses sobre família gostaria de falar do
filho, ou melhor, dos filhos. Inspiro-me em uma bela imagem de Isaías.
Escreve o profeta: "Levanta os olhos e olha à tua volta: todos se reúnem
para vir a ti; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são
transportadas à garupa. Essa visão tornar-te-á radiante; teu coração
palpitará e se dilatará" (60,4-5a). É uma imagem esplêndida, uma imagem
da felicidade que se realiza na reunificação entre pais e filhos, que
caminham juntos rumo a um futuro de liberdade e de paz, depois de um
longo tempo de privações e de separação, quando o povo hebreu se
encontrava distante da pátria.
De fato, há uma estreita ligação entre a
esperança de um povo e a harmonia entre as gerações. Devemos pensar bem
nisto. Há uma ligação estreita entre a esperança de um povo e a
harmonia entre as gerações. A alegria dos filhos faz palpitar os
corações dos pais e reabre o futuro. Os filhos são a alegria da família e
da sociedade. Não são um problema de biologia reprodutiva, nem um dos
tantos modos de se realizar. E tão pouco uma posse dos pais... Não. Os
filhos são um dom, são um presente: entendem? Os filhos são um dom. Cada
um é único e irrepetível; e ao mesmo tempo inconfundivelmente ligado às
suas raízes. Ser filho e filha, segundo o desígnio de Deus, significa
levar em si a memória e a esperança de um amor que se realizou
justamente iluminando a vida de um outro ser humano, original e novo. E
para os pais cada filho é si mesmo, é diferente, é diverso. Permitam-me
uma recordação de família. Eu me lembro da minha mãe, dizia a nós –
éramos cinco -: "Mas eu tenho cinco filhos". Quando lhe perguntavam:
"Qual é o teu preferido", ela respondia: "Eu tenho cinco filhos, como
cinco dedos [mostra os dedos da mão] Se me batem neste, me faz mal; se
me batem neste outro, me faz mal. Me faz mal em todos os cinco. Todos
são filhos meus, mas todos diferentes como os dedos de uma mão". E assim
é a família! Os filhos são diferentes, mas todos filhos.
Um filho é amado porque é filho: não
porque é bonito, ou porque é assim ou assim; não, porque é filho! Não
porque pensa como eu, ou encarna os meus desejos. Um filho é um filho:
uma vida gerada por nós mas destinada a ele, ao seu bem, ao bem da
família, da sociedade, de toda a humanidade.
Daqui vem também a profundidade da
experiência humana de ser filho e filha, que nos permite descobrir a
dimensão mais gratuita do amor, que nunca termina de nos surpreender. É a
beleza de ser amado primeiro: os filhos são amados antes de chegarem.
Quantas vezes as mães na praça me mostram a barriga e me pedem a
benção... estas crianças são amadas antes de vir ao mundo. E esta é
gratuidade, isto é amor; são amados antes do nascimento, como o amor de
Deus que nos ama sempre primeiro. São amados antes de terem feito
qualquer coisa para merecê-lo, antes de saber falar ou pensar, até mesmo
antes de vir ao mundo! Ser filhos é a condição fundamental para
conhecer o amor de Deus, que é a fonte última deste autêntico milagre.
Na alma de cada filho, por quanto vulneráveis, Deus coloca o selo deste
amor, que está na base da sua dignidade pessoal, uma dignidade que nada e
ninguém poderá destruir.
Hoje parece mais difícil para os filhos
imaginar o seu futuro. Os pais – mencionei em catequeses anteriores –
deram talvez um passo para trás e os filhos se tornaram mais incertos em
dar os seus passos adiante. Podemos aprender a boa relação entre as
gerações com o nosso Pai Celeste, que deixa cada um de nós livre mas não
nos deixa sozinhos nunca. E se erramos, Ele continua a nos seguir com
paciência sem diminuir o seu amor por nós. O Pai celeste não dá passos
para trás no seu amor por nós, nunca! Vai sempre adiante e, se não pode
seguir adiante nos espera, mas não vai nunca para trás; quer que os seus
filhos sejam corajosos e deem seus passos adiante.
Os filhos, por sua parte, não devem ter
medo do empenho de construir um mundo novo: é justo para eles desejar
que seja melhor que aquele que receberam! Mas isto deve ser feito sem
arrogância, sem presunção. Dos filhos é preciso saber reconhecer o valor
e aos pais se deve sempre dar honra.
O quarto mandamento pede aos filhos – e
todos o somos! – para honrar o pai e a mãe (cfr Es 20, 12). Este
mandamento vem logo depois daqueles que dizem respeito ao próprio Deus.
De fato, contém algo de sagrado, algo de divino, algo que está na raiz
de todo outro tipo de respeito entre os homens. E na formulação bíblica
deste quarto mandamento, acrescenta-se: "para que se prolonguem os teus
dias na terra que o Senhor teu Deus te dá". A ligação virtuosa entre as
gerações é garantia de futuro, e é garantia de uma história realmente
humana. Uma sociedade de filhos que não honram os pais é uma sociedade
sem honra; quando não se honram os pais se perde a própria honra! É uma
sociedade destinada a se encher de jovens áridos e ávidos. Porém, também
uma sociedade avarenta de gerações, que não ama circundar-se de filhos,
que os considera sobretudo uma preocupação, um peso, um risco, é uma
sociedade deprimida. Pensemos em tantas sociedades que conhecemos aqui
na Europa: são sociedades deprimidas, porque não querem os filhos, não
têm os filhos, o nível de nascimento não chega a um por cento. Por que?
Cada um de nós pense e responda. Se uma família generosa de filhos é
olhada como se fosse um peso, há algo errado! A geração dos filhos deve
ser responsável, como ensina também a Encíclica Humanae vitae, do beato
Papa Paulo VI, mas ter mais filhos não pode se tornar automaticamente
uma escolha irresponsável. Não ter filhos é uma escolha egoísta. A vida
rejuvenesce e conquista energias multiplicando-se: se enriquece, não se
empobrece! Os filhos aprendem a cuidarem da própria família, amadurecem
na partilha dos seus sacrifícios, crescem na apreciação dos seus dons. A
agradável experiência da fraternidade anima o respeito e o cuidado dos
pais, aos quais é preciso o nosso reconhecimento. Tantos de vocês aqui
presentes têm filhos e todos somos filhos. Façamos uma coisa, um minuto
de silêncio. Cada um de nós pense no seu coração nos próprios filhos –
se tem – pense em silêncio. E todos nós pensemos nos nossos pais e
agradeçamos a Deus pelo dom da vida. Em silêncio, aqueles que têm filhos
pensem neles e todos nós pensemos nos nossos pais (silêncio). O Senhor
abençoe os nossos pais e abençoe os vossos filhos.
Jesus, o Filho eterno, feito filho no
tempo, ajude-nos a encontrar o caminho de uma nova irradiação desta
experiência humana tão simples e tão grande que é ser filho. No
multiplicar-se das gerações há um mistério de enriquecimento da vida de
todos, que vem do próprio Deus. Devemos redescobri-lo, desafiando o
preconceito; e vivê-lo, na fé, em perfeita alegria. E vos digo: quão
belo é quando passo em meio a vocês e vejo os pais e as mães que
levantam seus filhos para serem abençoados; isto é um gesto quase
divino. Obrigado porque o fazem!
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