"Sede
misericordiosos, como vosso Pai do céu é misericordioso." (Lc 6, 36). A
certeza de que nosso Deus é Pai misericordioso é uma das verdades
centrais de nossa fé cristã. O modo como Deus é e age tem a marca da
misericórdia. Porém, o Ano da Misericórdia quer nos educar para uma vida
marcada pela misericórdia, por isso: "sede misericordiosos", ou
"bem-aventurados os misericordiosos" (Mt 6,7). A Tradição da Igreja
convencionou apresentar sete obras de misericórdia corporais e sete
obras de misericórdia espirituais. Tratarei, hoje, das obras de
misericórdia corporais, mostrando como, para cada uma delas podemos
viver a compaixão.
Dar de comer a quem tem fome. A comida é
uma necessidade humana básica. A existência de pessoas que passam fome é
um escândalo para a humanidade. As iniciativas sociais e, em nossa
Igreja, para dar de comer aos famintos, são muitas. Disse Jesus: "Eu
estava com fome e vocês me deram de comer." (Mt 25,35).
Dar de beber a quem tem sede. Trata-se
mais do que oferecer um copo d´água. Diz nosso Papa que "o acesso à água
potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e
universal." (Laudato Si, 30).
Vestir os nus. Quanto desperdício na
compra de roupas desnecessárias! Vê-se muita generosidade na doação de
roupas e agasalhos. Isto é bom. Melhor se nos educássemos, como nos diz o
Papa para a "sobriedade feliz" (LS 224), não sendo "consumistas
desenfreados" (LS 227). Afinal, disse Jesus: "Por que vocês ficam
preocupados com a roupa?" (Mt 7,28).
Acolher os peregrinos. Esta é uma
atitude bíblica muito estimada. No livro do Gênesis, conta que Abraão e
Sara, ao acolherem os três peregrinos, acolheram o próprio Deus e foram
abençoados com o filho que tanto esperavam. Hoje, abrir as portas para
acolher os migrantes é um desafio sobretudo para as sociedades mais
industrializadas. Não pode um cristão e nossas comunidades ter
preconceitos para acolher os que são obrigados a migrar em busca de
melhores condições de vida para suas famílias.
Visitar os enfermos. Os relatos dos
evangelhos nos mostram Jesus muito envolvido, próximo dos enfermos. Ele
os tocava e os curava. Os cristãos têm uma longa tradição de cuidado com
os doentes e idosos. Quantas vidas doadas, ontem e hoje, pelos
enfermos, muitas no anonimato. Bela é a missão da pastoral que visita os
doentes.
Visitar os presos. Em primeiro lugar, é
preciso desarmar-se de preconceitos e julgamentos. Ao visitar os
presidiários expressamos e oferecemos a misericórdia de Deus, que vai
além da justiça, e continua a amar a pessoa, mesmo no erro e no pecado.
Enterrar os mortos. No Livro de Tobias
encontramos o seguinte: "Tobit com uma solicitude toda particular,
sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos." (Tb 1, 20). Mas,
sobretudo,trata-se de auxiliar os familiares e amigos a elaborarem o
luto, sendo suporte neste momento difícil, partilhando as palavras de
Jesus sobre a Ressurreição.
Enfim, neste Ano da Misericórdia,
"abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de
tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos
desafiados a escutar o seu grito de ajuda." (Papa Francisco, O rosto da
misericórdia, 15).
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)
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