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domingo, 24 de janeiro de 2016

Novas relações, no amor e misericórdia.

Dom Caetano Ferrari
Bispo de Bauru (SP)

Resultado de imagem para dom caetano ferrariNeste ano C a Liturgia proclama o Evangelho de Lucas. A intenção de Lucas ao escrever o seu Evangelho é mostrar que Jesus veio abrir uma nova história, a história da libertação e salvação especialmente para os pobres e excluídos pelo estabelecimento de novas relações de fraternidade a serem construídas sobre as bases de um amor e compaixão nunca dantes vistos. O Papa Francisco vem nos pedindo para, neste Ano Jubilar da Misericórdia, meditarmos com particular atenção o Evangelho de Lucas, porque este é o Evangelho da Misericórdia. Os biblistas dizem que o Evangelho de Lucas é o mais atraente, mais prazeroso de ser lido, porque apresenta “a mensagem de Jesus como Boa Notícia de um Deus compassivo, defensor dos pobres, curador dos doentes e amigo de pecadores” (José Antônio Pagola, “O caminho aberto por Jesus”, Ed. Vozes). 
No trecho evangélico da Missa de hoje - Lc 1,1-4;4,14-21 - Lucas, primeiramente, diz que também ele decidiu escrever, segundo um modo próprio de organizar, a história dos acontecimentos como foram contados pelas testemunhas oculares e ministros da Palavra. Depois, Lucas apresenta o programa de Jesus. 
Da maneira como Lucas conta, foi Jesus mesmo quem escolheu uma passagem do profeta Isaías que fundamentasse o seu programa de ação, para dizer qual o Espírito que o anima, quais as suas preocupações e os seus propósitos. Na sinagoga de Nazaré, num dia de sábado, Jesus tomou o profeta Isaías e leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu. Enviou-me para dar a Boa Notícia aos pobres, para anunciar aos cativos a liberdade e aos cegos a visão, para pôr em liberdade os oprimidos, para anunciar o ano de graça do Senhor. E, fechando o livro, devolveu-o ao ajudante e sentou-se. Toda sinagoga tinha os olhos fixos nele. E Ele se pôs a dizer-lhes: Hoje se cumpre esta Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,16-21). Lucas abre o ministério apostólico de Jesus com o anúncio de Boa Nova da libertação para os pobres, os cativos, os oprimidos e os cegos. Estas quatro categorias de pessoas sintetizam os feridos golpeados pelas misérias daquele tempo, mas que representam os sofredores de todos os tempos. 
A doutrina da Igreja distingue com toda clareza os dois níveis de compreensão do que significa a libertação cristã. Primeiramente, significa salvação do pecado, é de natureza religiosa e espiritual, compreende a parte essencial da evangelização que é salvar a pessoa toda e todas as pessoas para a vida eterna, plena e feliz com Deus. Depois, diz respeito também à promoção humana, que exige, por exemplo, dar o pão a quem tem fome e roupa ao nu, curar as feridas, defender a dignidade humana, cuidar da vida do planeta, lutar contra as injustiças e opressões. É parte integrante da evangelização. Refere-se às dimensões da vida temporal e histórica do homem. O magistério da Igreja sempre alertou os cristãos a não confundirem a libertação cristã com as ideologias de cunho político. A salvação é uma história da caridade, do amor de Deus, e não uma história do ódio, ainda que justo, como, por exemplo, o viveram os revolucionários do marxismo. Jesus aprofunda as exigências da justiça e da misericórdia. No entanto, pela proposta do mandamento novo Jesus pede aos seus discípulos para que busquem uma perfeição de santidade que os façam ir além da justiça humana, isto é que sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36). Sobretudo por sua prática, Jesus priorizou a misericórdia, segundo disse que não é a penitência, como exigência da justiça, que Deus quer, mas é a misericórdia que Ele deseja (cf. Mt 9, 13). Jesus, verdadeiramente, revelou o rosto misericordioso do Pai, como ninguém o fez. 
Apresentado desta forma por Lucas, este é o programa que Jesus adotou para si enquanto viveu neste mundo e o propôs aos seus discípulos de então, de hoje e para sempre. A obra da libertação cristã e da salvação eterna só se consegue à base do muito amor e misericórdia, segundo a medida da caridade e misericórdia de Cristo que amou sem medida.  
Senhor, concedei a todos nós a graça de jamais perdermos de vista o programa de Jesus e de produzirmos, em seu nome, frutos de boas obras que libertam e salvam. Amém!

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