Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
A indiferença é incontestável ameaça à
paz e, por isso, o Papa Francisco faz o convite convocação: "Vence a
indiferença e conquista a paz". Essa interpelação, tema do Dia Mundial
da Paz 2016, diz respeito a todos os cidadãos. Exige redobrada atenção
por parte dos diferentes segmentos da sociedade. Não se trata de um
movimento simples e qualquer, mas da capacidade para o diálogo, que vai
além de simples conversa e está distante dos conchavos interesseiros.
Trata-se de caminho para nova cultura.
A indiferença é espessa camada a ser
removida, com muito esforço, para dar lugar à fluidez da escuta e
sensibilidade que fazem nascer no coração humano a competência para
eleger, em todas as circunstâncias, o outro como prioridade. Por isso,
se equivocam dirigentes, governantes e todos os que escolhem, decidem e
operam na contramão do diálogo. Os prejuízos são enormes e facilmente
constatáveis: a vergonhosa exclusão social, a perpetuação dos esquemas
de corrupção e a manipulação do que é bem comum em benefício de
interesses particulares. O resultado é uma terrível mediocridade na
atuação de dirigentes e governos, sem lucidez para encontrar soluções e
saídas. Consequentemente, a paz segue ameaçada.
É óbvio concluir que a falta de diálogo
provocada pela indiferença é um problema grave. Trata-se de carência
comum a vários ambientes – parlamentos, muitas vezes cenários de poucos e
ineficazes entendimentos; diversos ambientes de trabalho e famílias. A
falta do diálogo, alimentada e alimentadora da indiferença, tudo
envenena. A indiferença comprova a carência de sabedoria na condução da
vida. É sinal da perda de rumo e da incompetência que impede exercícios
responsáveis e inventivos na atuação profissional e cidadã.
Situações desoladoras resultam desse
verdadeiro veneno: os desperdícios, a perda de oportunidades para
avanços e progressos, o recrudescimento de grupos, a disputa entre
pessoas, famílias, nações. Ninguém fica isento de pagar um alto preço,
que inclui o aumento da violência. Ela nasce também das revoltas e da
dor da indiferença sofrida pelos mais pobres, por quem não tem voz e
vez. E não adiantam esquemas de segurança, isolamentos que desenham
segregações, ou portas fechadas para tratar em mesas restritas os
assuntos que dizem respeito ao interesse do bem comum.
Nesse contexto, a vida de todos,
indistintamente, é temperada pelos espectros de incertezas e
desconfianças que descompassam corações, inteligências e vivências. Não
há, assim, outro caminho, senão acolher, efetiva e urgentemente, a
convocação de investir na superação da indiferença, particularmente pela
prática sincera e permanente do diálogo, compreendido como escuta
prioritária do outro, antes de qualquer juízo e decisão. Isso envolve a
conduta pessoal e também transformações nas dinâmicas institucionais. É
mudança cultural capaz de introduzir uma novidade na esfera de
entendimentos e de deixar aparecer a luz da sabedoria, que permite
encontrar saídas para as crises. Uma luminosidade apropriada para
oferecer respostas aos muitos questionamentos, soluções para problemas e
dar nova configuração aos cenários sociais, políticos e culturais.
Vale acolher a instigante convocação
feita pelo Papa Francisco, "Vence a indiferença e conquista a paz", que
se torna ainda mais forte pela exemplaridade de suas atitudes – em
permanente diálogo com todas as pessoas, com a cultura contemporânea – e
também por sua simplicidade cativante. Acolher essa convocação
significa admitir que a indiferença globalizada é um inimigo comum a ser
combatido e vencido com urgência. Esse embate inclui indispensavelmente
o empenho pessoal de todos. Raciocínio lógico e simples é considerar
que se cada pessoa enfrenta a indiferença e luta pela paz, alcança-se
grande impacto positivo na qualidade dos relacionamentos e valiosas
soluções para as crises governamentais, institucionais, familiares e de
relações humanas.
Há um caminho a ser trilhado para
qualificar-se como agente de combate à indiferença na sociedade: buscar
aproximar-se de Deus. O Papa Francisco lembra que a indiferença em
relação a Deus supera a esfera íntima e espiritual do indivíduo e traz
consequências para a esfera pública e social. De modo interpelante,
Francisco acrescenta que o esquecimento e a negação de Deus induzem o
homem a não reconhecer qualquer norma que esteja acima de si. Isso
produz crueldade e violência. Assim, para edificar um mundo melhor, é
hora de vencer a indiferença que ameaça a paz.
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