Cidade
do Vaticano (RV) – Que o tempo da Quaresma “nos prepare o coração” ao
perdão de Deus e a perdoarmos como Ele, isto é, esquecendo das culpas
dos outros. Com esta oração, o Papa concluiu a homilia da missa da manhã
desta terça-feira (1º/3), celebrada na Casa Santa Marta.A perfeição de Deus tem um ponto fraco exatamente aonde a imperfeição humana tende a não dar desconto: a capacidade de perdoar.
Sem memória
O pensamento do Papa, na homilia, é conduzido pelas leituras da
liturgia. O Evangelho apresenta a célebre pergunta de Pedro a Jesus:
quantas vezes devo perdoar um irmão que cometeu uma ofensa contra mim? A
leitura, extraída do Profeta Daniel, é centrada na oração do jovem
Azarias que, colocado no forno por ter se recusado a adorar um ídolo de
ouro, invoca entre as chamas a misericórdia de Deus pelo povo,
pedindo-lhe simultaneamente o perdão para si. Este, sublinha Francisco, é
o modo justo certo de rezar. Sabendo contar com um aspecto especial da
bondade de Deus:
“Quando Deus perdoa, o seu perdão é tão grande que é como se
‘esquecesse’. Todo o contrário daquilo que nós fazemos, das fofocas:
‘Mas ele fez isso, fez aquilo, fez aquilo outro …’, e nós temos de
tantas pessoas a história antiga, média, medieval e moderna, eh?, e não
esquecemos. Por quê? Porque não temos o coração misericordioso.
‘Trata-nos segundo a Tua clemência’, diz este jovem Azarias. ‘Segundo a
Tua imensa misericórdia. Salva-nos. É um apelo à misericórdia de Deus,
para que nos dê o perdão e a salvação e esqueça os nossos pecados”.
A equação do perdão
No trecho do Evangelho, para explicar a Pedro que precisa perdoar
sempre, Jesus conta a parábola dos dois endividados, o primeiro obtém o
perdão do seu patrão, mesmo lhe devendo uma cifra enorme, e pouco
depois, é incapaz de ser também ele misericordioso com outro que lhe
devia somente uma pequena quantia. Assim observou o Papa:
“No Pai-Nosso rezamos: ‘Perdoai as nossas ofensas assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido”. É uma equação, vão juntas. Se você
não é capaz de perdoar, como Deus poderá o perdoar? Ele quer perdoar
você, mas não poderá se o seu coração estiver fechado, e a misericórdia
não poderá entrar. ‘Mas, Pai, eu perdoo, mas não posso esquecer aquele
mal que ele me fez …’. ‘Eh, peça ao Senhor que o ajude a esquecer’: mas
isso é outra coisa. Pode-se perdoar, mas esquecer nem sempre se
consegue. Mas ‘perdoar’ e dizer: ‘você me paga’: isso não! Perdoar como
Deus perdoa: perdoar ao máximo”.
Misericórdia que “esquece”
Misericórdia, compaixão, perdão, repete o Papa, recordando que “o perdão do coração que nos dá Deus é sempre misericórdia”:
“Que a Quaresma prepare o nosso coração para receber o perdão de
Deus. Recebê-lo e, depois, fazer o mesmo com os outros: perdoar de
coração. Talvez não me dirija a palavra, mas no meu coração eu lhe
perdoei. E assim nos aproximamos desta coisa tão grande de Deus que é a
misericórdia. E perdoando abrimos o nosso coração para que a
misericórdia de Deus entre e nos perdoe, a nós. Porque todos nós
precisamos pedir perdão: todos. Perdoemos e seremos perdoados. Tenhamos
misericórdia com os outros, e nós sentiremos aquela misericórdia de Deus
que, quando perdoa, “se esquece"”. (CM/BF/RB)
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