Cidade do Vaticano (RV) - A Igreja saiba “colocar-se à parte” para que
no seu anúncio faça brilhar sempre o rosto de Deus – não ela mesma. É a
exortação feita pelo Padre Ermes Ronchi na quarta meditação dos
exercícios espirituais que ele prega ao Papa Francisco e à Cúria Romana,
na Casa “Divino Mestre”, em Ariccia. A inspiração da reflexão da manhã
desta terça-feira (08/03), veio da passagem em que Pedro faz a sua
profissão de fé em Cristo.
A pergunta que Jesus faz aos discípulos ressoa no reparo do “lugar
afastado” para onde o Mestre conduziu os discípulos. Por qualquer
momento nada de reuniões e o barulho da multidão, mas somente “silêncio,
solicitude e oração”. Somente um momento de intimidade “entre eles e
entre eles e Deus”. E neste silêncio, aquela pergunta de Jesus que
parece uma sondagem de opinião: “Mas quem dizeis vós que Eu sou?”.
O melhor negócio da minha vida
No silêncio análogo do retiro em Ariccia, Padre Ermes Ronchi coloca o
Papa e sues colaboradores da Cúria diante da mesma solicitação. E,
sobretudo, àquele “mas” que Jesus acrescenta, que percorre a alma: “Mas
quem dizeis vós que Eu sou?”. Um modo para dizer aos seus – observa
Padre Ronchi, de não se contentar daquilo que dizem as pessoas, porque
“a fé não avança por ter ouvido falar”:
“A resposta que Jesus procura não são palavras. Ele procura pessoas.
Não definições, mas envolvimentos: o que te aconteceu, quando me
encontraste? Jesus é o mestre do coração, Jesus não dá lições, não
sugere respostas, conduz com delicadeza a procurar dentro de nós. E eu
gostaria de poder responder: te encontrar foi o melhor negócio da minha
vida. Foste a melhor coisa que jamais me aconteceu”.
A fé caminha
“Quem sou eu para ti”? é uma pergunta de “enamorados”, diz o pregador
dos exercícios. E o que surpreende é que Jesus “não doutrina ninguém”.
Os discípulos não devem temer em dar respostas prontas àquela pergunta,
“não há nenhum Credo a ser composto”, afirma Padre Ronchi. A Jesus
interessa saber se os seus abriram o coração. Afirmar, como faz Pedro,
que Cristo é “o filho do Deus Vivo” é uma verdade que tem sentido se
Cristo “está vivo dentro de nós”.
“O nosso coração – diz ainda o pregador – pode ser o berço ou a sepultura de Deus”:
“Querem realmente saber algo sobre mim, diz Jesus, e ao mesmo tempo
sobre vocês? Temos um compromisso: um homem na cruz. Um que é colocado
no alto. Antes ainda, quinta-feira, o compromisso de Cristo será um
outro: um que está em um lugar abaixo. Que pega um pano e se inclina
para lavar os pés dos seus (...) Razão a Paulo: o cristianismo é
escândalo e loucura. Agora entendemos quem é Jesus: é beijo a quem o
trai. Não divide ninguém, divide a si mesmo. Não derrama o sangue de
ninguém, derrama o seu sangue. Não sacrifica ninguém, sacrifica a si
mesmo”.
“Refletores” em Cristo
Até o momento daquela pergunta feita no silêncio, o discípulos não
tinham ainda entendido o que estava prestes a acontecer a seu Mestre.
Por isso Jesus é rigoroso ao impor-lhes de não dizer nada a ninguém. “Um
comando severo” que “chega a toda a Igreja”, destaca o pregador,
“porque às vezes já pregamos um rosto deformado de Deus”.
Nós, eclesiásticos, nota Padre Ronchi, “parecemos todos iguais” –
mesmos gestos, palavras, vestidos. Mas as pessoas se perguntam: “Diga-me
a sua experiência de Deus”. E Cristo, prossegue, “não é aquilo que digo
Dele mas aquilo que vivo Dele”. “Não somos nós o mediadores entre Deus e
a humanidade, o verdadeiro mediador é Jesus”, conclui o pregador. Como
João Batista, devemos preparar a estrada e “colocar-nos à parte”.
“Pensem na beleza de um igreja que não acende os refletores sobre ela
mesma – como nestes dias aqui recolhidos – mas sobre um Outro. Temos
ainda um caminho a percorrer. Diminuir (...) Jesus não diz “pegue a
minha cruz”, mas a sua, cada um a sua (…) O sonho de Deus não é um
cortejo sem medidas de homens, mulheres e crianças, cada um com a sua
cruz sobre os ombros. Mas de pessoas encaminhadas em direção a uma vida
boa, contente e criativa. Uma vida que tem um preço tenaz de compromisso
e perseverança. Mas também um preço doce, de luz: no terceiro dia
ressuscitará”.
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