Cidade
do Vaticano (RV) - O Evangelho da misericórdia procura “bons
samaritanos”, pede servos generosos e alegres, que amam gratuitamente
sem nada pretender em troca: foi o que disse o Papa Francisco na missa
celebrada na manhã deste II Domingo da Páscoa, festa da Divina
Misericórdia.
Após a vigília de oração da tarde precedente, a Praça São Pedro
voltou a lotar-se este domingo para a missa com o Santo Padre, na qual
Francisco reiterou que “tudo o que Jesus disse e fez é expressão da
misericórdia do Pai”.
O Evangelho é o livro da misericórdia de Deus, disse o Papa,
acrescentando que “o Evangelho da misericórdia permanece um livro
aberto, onde se há de continuar a escrever os sinais dos discípulos de
Cristo, gestos concretos de amor, que são o melhor testemunho da
misericórdia”.
“Todos somos chamados a tornar-nos escritores viventes do Evangelho,
portadores da Boa Nova a cada homem e mulher de hoje. Podemos fazê-lo
praticando as obras corporais e espirituais de misericórdia, que são o
estilo de vida do cristão. Através destes gestos simples e vigorosos,
mesmo se por vezes invisíveis, podemos visitar aqueles que passam
necessidade, levando a ternura e a consolação de Deus.”
Deste modo damos continuidade ao que fez Jesus no dia de Páscoa,
“quando derramou, nos corações assustados dos discípulos, a misericórdia
do Pai, o Espírito Santo que perdoa os pecados e dá a alegria”, frisou.
Atendo-se ao Evangelho deste segundo domingo da Páscoa, no qual
Jesus, oito dias após sua Ressurreição, apareceu a seus discípulos, o
Papa chamou a atenção para um contraste evidente: por um lado – disse –,
“temos o medo dos discípulos, que fecham as portas da casa; por outro,
temos a missão, por parte de Jesus, que os envia ao mundo para levarem o
anúncio do perdão”.
O mesmo contraste pode verificar-se também em nós: “uma luta interior
entre o fechamento do coração e o chamado do amor para abrir as portas
fechadas e sair de nós mesmos”, observou.
Francisco ressaltou que a estrada que o Mestre ressuscitado nos
aponta é estrada de sentido único, segue-se apenas numa direção: “sair
de nós mesmos, para testemunhar a força sanadora do amor que nos
conquistou. Muitas vezes vemos, diante de nós, uma humanidade ferida e
assustada, que tem as cicatrizes do sofrimento e da incerteza”.
Cada doença pode encontrar na misericórdia de Deus um auxílio eficaz.
Com efeito, prosseguiu o Santo Padre, a sua misericórdia não se detém à
distância: “quer vir ao encontro de todas as pobrezas e libertar de
tantas formas de escravidão que afligem o nosso mundo. Quer alcançar as
feridas de cada um, para medicá-las.”
“Ser apóstolos de misericórdia significa tocar e acariciar as suas
chagas, presentes hoje também no corpo e na alma de muitos dos seus
irmãos e irmãs.”
O Papa disse ainda que ao cuidar destas chagas, professamos Jesus,
tornamo-Lo presente e vivo; permitimos a outros que palpem a sua
misericórdia, e O reconheçam ‘Senhor e Deus’, como fez o apóstolo Tomé.
“O Evangelho da misericórdia, que se deve anunciar e escrever na
vida, procura pessoas com o coração paciente e aberto, «bons
samaritanos» que conhecem a compaixão e o silêncio perante o mistério do
irmão e da irmã; pede servos generosos e alegres, que amam
gratuitamente sem nada pretender em troca.”
Após lembrar a saudação de paz que Cristo leva aos seus discípulos,
“A paz esteja convosco!”, e enfatizar que é a mesma paz que esperam os
homens do nosso tempo, o Papa caracterizou a paz de Cristo, aquela paz
que somente Ele pode nos dar:
“Não é uma paz negociada, nem a suspensão de algo errado: é a sua
paz, a paz que brota do coração do Ressuscitado, a paz que venceu o
pecado, a morte e o medo. É a paz que não divide, mas une; é a paz que
não deixa sozinhos, mas faz-nos sentir acolhidos e amados; é a paz que
sobrevive no sofrimento e faz florescer a esperança. Esta paz, como no
dia de Páscoa, nasce e renasce sempre do perdão de Deus, que tira a
ansiedade do coração.”
“Ser portadora da sua paz: esta e a missão confiada à Igreja no dia
de Páscoa”, disse o Pontífice, acrescentando que “nascemos em Cristo
como instrumentos de reconciliação, para levar a todos o perdão do Pai,
para revelar o seu rosto de amor nos sinais da misericórdia”.
Por fim, lembrando que “O amor do Senhor é para sempre”, proclamado no Salmo Responsorial da celebração (Sl 117), enfatizou a certeza que temos de que “Deus não nos abandona: permanece para sempre”.
Francisco pediu a graça de não nos cansarmos de tomar a misericórdia
de Deus e levá-la pelo mundo: “peçamos para sermos misericordiosos, a
fim de irradiar por todo o lado a força do Evangelho, para escrever
aquelas páginas do Evangelho que o apóstolo João não escreveu”, concluiu
o Pontífice, aludindo às palavras com as quais o ‘discípulo amado’
encerra esta página do Evangelho – “Muitos outros sinais miraculosos
realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão
escritos neste livro”, Jo 20, 30.
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