Ao
chegar o tempo do Natal, naturalmente recordamos o valor da vida humana.
Deus quis também se tornar homem enviando seu Filho amado que nasceu do
seio de Maria Virgem. Tal fato dignifica e sacraliza a vida humana.
Vem à tona, por outro lado, as questões da bioética.
Esse termo surgiu por volta dos anos 70,
nos Estados Unidos, após o aparecimento de tantos dados novos
relacionados à vida graças ao amplo progresso da ciência médica.
Trata-se de estabelecer princípios éticos na manipulação de dados
relacionados com a vida, sobretudo com a vida humana. A descoberta da
composição das células, realizada pelo Monge católico Mendel, da ordem
agostiniana, em meados do século XIX, possibilitou um enorme avanço da
ciência, pois suas pesquisas revelaram como se transmitem os caracteres
humanos de pais para filhos, através dos genes. Viu Mendel que os
primeiros minutos da existência de um novo ser humano, a partir do
momento da concepção, já são determinantes para toda a sua vida. O
avanço da ciência é algo maravilhoso que constituiu uma verdadeira
bênção de Deus para a humanidade.
Mais recentemente se descobriu a ação
das células-tronco. O uso de tais células no tratamento de várias
doenças representará a solução para inumeráveis casos tidos antes como
insolúveis. Isso é maravilhoso! Porém há um grande problema: a busca de
células-tronco em embriões humanos. Para aproveitá-las, deve-se matar o
embrião. Isto é imoral, pois o embrião é uma verdadeira pessoa desde o
momento de sua concepção, segundo ensina a própria ciência. A coisa se
torna ainda mais grave quando se sabe que a criação de embriões humanos
em bancos de reserva genética é um negócio imensamente lucrativo, embora
escandalosamente desonesto.
Contudo, podem-se obter estas células em
tecidos adultos, inclusive com melhor comportamento terapêutico que as
embrionárias, uma vez que estas últimas são muito ativas, destinadas a
construir o organismo todo e quando transferidas acabam gerando tumores
em lugar de curar doenças. Não haveria, portanto, nenhuma razão para se
optar pelas células embrionárias. Infelizmente no Brasil, muito
desacertadamente, se aprovou há alguns anos a lei da biossegurança,
página inconveniente de nossa história.
O problema está relacionado com a
gravíssima questão do aborto, que será sempre um crime e um grave
pecado. Tramitam no Congresso brasileiro projetos de lei que pretendem
descriminalizar o aborto. Descriminalizar significa declarar que não
será mais crime cometer aborto voluntário, ou seja, deixaria de ser
crime matar as crianças antes de seu nascimento. Por mais argumentos que
arranjem os abortistas e os aborteiros, nunca terão condição de negar
esta verdade: aborto é a eliminação violenta de uma ou mais vidas
humanas. Com o emprego de eufemismos tais como interrupção da gravidez,
descriminalização, ou despenalização do aborto, gravidez assistida,
direito da mulher sobre o seu corpo e outros, vai se tentando no Brasil
legalizar a prática hedionda do abortamento de seres humanos.
Leve-se em conta que a criança gerada no
seio materno não é parte do corpo da mãe, mas é outro ser humano
distinto dela. Nenhuma mulher tem direito de assassinar ou causar a
morte de seu filho. Se a mãe matasse um filho de três meses depois de
nascido, seria certamente considerada um monstro. Mas, como aceitar que
se possa matar sua criança três, seis ou nove meses antes de nascer?!
Tratando-se de bioética, outros temas
são hoje objeto de estudo e de preocupações, como a eutanásia, o
abortamento de anencéfalos, a fecundação in vitro e outros, mas ficam
para uma próxima oportunidade. Concluo esta parte, lembrando a palavra
de Jesus Cristo que nos pode iluminar em toda as questões: Eu vim para
que todos tenham vida e vida em abundância. (Jo 10,10)
Que neste Natal você possa celebrar vitórias da vida.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
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