Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
Arcebispo de Passo Fundo
O Dia de Finados coloca o drama humano
da morte. Ter consciência da finitude e conviver com a morte suscita
interrogações e a busca de sentido para o viver e o morrer. Tantos
carregam as marcas do sofrimento da morte das pessoas amadas e têm
dificuldade de lidar com o luto, as emoções, o vazio. Têm dificuldades
para restabelecer a esperança e a alegria de viver.É o retrato da
condição humana.
Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem,
quando se encontra em situações de morte envolve-se profundamente.
“Quando Jesus a viu (Maria) chorar e também os judeus que a
acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado. (...) Jesus
chorou. Diziam, então, os judeus: Vede como ele o amava.” (Jo 11,
33-36). O enterro da viúva de Naim relata: “Ao vê-la, o Senhor,
encheu-se de compaixão por ela.” (Lc 7, 13). Às vésperas da sua paixão e
morte na cruz rezou: “Sinto uma tristeza mortal! (...) Afasta de mim
este cálice." (Mc 14, 34-36).
A sede de infinito pode afastar a
reflexão sobre o tema do morrer. Morrer, nem pensar! Poucos consideram
que viveram o suficiente. Todos se acham no direito de esticar o mais
possível a vida na terra; talvez para atingir o limite máximo dos 122
anos, segundo pesquisas de cientistas americanos (cf. ZH, 15/10/2016).
Então, o que fazer para saciar este desejo de infinito, de eternidade?
O cristianismo vem em socorro desta
angústia humana, ao apresentar o maior presente que Deus nos dá: a vida
eterna. O credo cristão culmina na proclamação da ressurreição dos
mortos e na vida eterna. Tertuliano, no começo da era cristã, dizia: “A
confiança dos cristãos é a ressurreição dos mortos, crendo nela, somos
cristãos”. Esta confiança nasce dos ensinamentos de Cristo sobre a vida
eterna. “Teu irmão ressuscitará. (...) Eu sou a ressurreição. Quem crê
em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em
mim, não morrerá jamais. Crês nisto?” (Jo 11, 23-26)
O crer não dispensa os sentidos, mas ao
contrário: os supõe e, através de rituais, a crença torna-se visível. A
Igreja motiva a visita aos cemitérios no Dia de Finados, como também em
outras oportunidades, e a participação nas celebrações litúrgicas
fúnebres pelos seguintes motivos: a) o credo cristão professa a comunhão
dos santos, isto é, os batizados estão unidos em Cristo, sejam vivos ou
falecidos; b) a solidariedade para com os familiares dos falecidos; c)
oração pelos falecidos, suplicando a misericórdia divina. Rezar pelos
mortos é uma obra de misericórdia.
Visitar e cuidar dos cemitérios é uma
atitude de respeito com as pessoas que colaboraram na construção da
história familiar, da cidade, que transmitiram ciência, tecnologia,
valores e a fé. É uma oportunidade para meditar sobre o mistério da
vida, da morte e da eternidade. Estes mortos, aos olhos humanos,
provocam a consciência dos vivos para o legado que deixarão.
Também, a atitude de levar flores é
muito significativa. A obra da criação é bela e colorida. A vida da
pessoa falecida foi uma obra bela, além das atitudes de bondade, cuidado
e amor que teve. As lembranças provocam saudades dos momentos bonitos
vivenciados. As flores manifestam o reconhecimento e a gratidão.
Significativo é acender velas que, na fé
cristã católica, são símbolo do Cristo Ressuscitado e da fé na vida
eterna. O fogo da vela é luz, é calor, é sacrifício, é purificação. A
cera, que vai se consumindo lentamente, é imagem da vida que foi se
sacrificando (no sentido de tomar sacro, sagrado) até a chama se apagar
por ter-se cumprido a missão na terra.
Levar a sério a limitação humana, que
tem na morte física o limite insuperável, é o melhor convite para
valorização, o cuidado e a promoção da vida. É um grito para viver bem e
se ocupar daquilo que tem valor de eternidade.
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