“Na verdade, para a Igreja, encerrar o
Sínodo significa voltar realmente a ‘caminhar juntos’ para levar a toda a
parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a
luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!”,
disse o papa Francisco, em mensagem por ocasião do encerramento da 14ª
Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família. De 04 a 25 de
outubro, 265 membros votantes participaram da Assembleia que refletiu
sobre “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo
contemporâneo”.
O papa agradeceu aos diversos
colaborares do Sínodo que trabalham para o êxito das atividades.
“Agradeço a todos vós, amados padres sinodais, delegados fraternos,
auditores, auditoras e conselheiros, párocos e famílias pela vossa ativa
e frutuosa participação. Estai certos de que a todos recordo na minha
oração ao Senhor para que vos recompense com a abundância dos seus dons e
graças!”, expressou Francisco.
Confira íntegra da mensagem:
Amadas Beatitudes, Eminências, Excelências, Queridos irmãos e irmãs!
Quero, antes de mais, agradecer ao
Senhor por ter guiado o nosso caminho sinodal nestes anos através do
Espírito Santo, que nunca deixa faltar à Igreja o seu apoio.
Agradeço de todo o coração ao Cardeal
Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo, a D. Fabio Fabene,
Subsecretário e, juntamente com eles, agradeço ao Relator, o Cardeal
Peter Erdö, e ao Secretário Especial, D. Bruno Forte, aos presidentes
delegados, aos secretários, consultores, tradutores e todos aqueles que
trabalharam de forma incansável e com total dedicação à Igreja: um
cordial obrigado!
Agradeço a todos vós, amados padres
sinodais, delegados fraternos, auditores, auditoras e conselheiros,
párocos e famílias pela vossa ativa e frutuosa participação.
Agradeço ainda a todas as pessoas que se
empenharam, de forma anônima e em silêncio, prestando a sua generosa
contribuição para os trabalhos deste Sínodo.
Estai certos de que a todos recordo na minha oração ao Senhor para que vos recompense com a abundância dos seus dons e graças!
Enquanto acompanhava os trabalhos do
Sínodo, pus-me esta pergunta: Que há-de significar, para a Igreja,
encerrar este Sínodo dedicado à família?
Certamente não significa que esgotámos
todos os temas inerentes à família, mas que procuramos iluminá-los com a
luz do Evangelho, da tradição e da história bimilenária da Igreja,
infundindo neles a alegria da esperança, sem cair na fácil repetição do
que é indiscutível ou já se disse.
Seguramente não significa que
encontramos soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que
desafiam e ameaçam a família, mas que colocamos tais dificuldades e
dúvidas sob a luz da Fé, examinamo-las cuidadosamente, abordamo-las sem
medo e sem esconder a cabeça na areia.
Significa que solicitamos todos a
compreender a importância da instituição da família e do Matrimônio
entre homem e mulher, fundado sobre a unidade e a indissolubilidade e a
apreciá-la como base fundamental da sociedade e da vida humana.
Significa que escutamos e fizemos
escutar as vozes das famílias e dos pastores da Igreja que vieram a Roma
carregando sobre os ombros os fardos e as esperanças, as riquezas e os
desafios das famílias do mundo inteiro.
Significa que demos provas da vitalidade
da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as consciências
anestesiadas ou sujar as mãos discutindo, animada e francamente, sobre a
família.
Significa que procurámos olhar e ler a
realidade, melhor dito as realidades, de hoje com os olhos de Deus, para
acender e iluminar, com a chama da fé, os corações dos homens, num
período histórico de desânimo e de crise social, económica, moral e de
prevalecente negatividade.
Significa que testemunhámos a todos que o
Evangelho continua a ser, para a Igreja, a fonte viva de novidade
eterna, contra aqueles que querem «endoutriná-lo» como pedras mortas
para as jogar contra os outros.
Significa também que espoliámos os
corações fechados que, frequentemente, se escondem mesmo por detrás dos
ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na cátedra
de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os
casos difíceis e as famílias feridas.
Significa que afirmámos que a Igreja é
Igreja dos pobres em espírito e dos pecadores à procura do perdão e não
apenas dos justos e dos santos, ou melhor dos justos e dos santos quando
se sentem pobres e pecadores.
Significa que procurámos abrir os
horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou perspectiva
fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para
transmitir a beleza da Novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem
duma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível.
No caminho deste Sínodo, as diferentes
opiniões que se expressaram livremente – e às vezes, infelizmente, com
métodos não inteiramente benévolos – enriqueceram e animaram certamente o
diálogo, proporcionando a imagem viva duma Igreja que não usa
«impressos prontos», mas que, da fonte inexaurível da sua fé, tira água
viva para saciar os corações ressequidos.1
E vimos também – sem entrar nas questões
dogmáticas, bem definidas pelo Magistério da Igreja – que aquilo que
parece normal para um bispo de um continente, pode resultar estranho,
quase um escândalo, para o bispo doutro continente; aquilo que se
considera violação de um direito numa sociedade, pode ser preceito óbvio
e intocável noutra; aquilo que para alguns é liberdade de consciência,
para outros pode ser só confusão. Na realidade, as culturas são muito
diferentes entre si e cada princípio geral, se quiser ser observado e
aplicado, precisa de ser inculturado.2 O Sínodo de 1985, que comemorava o
vigésimo aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II, falou da
inculturação como da «íntima transformação dos autênticos valores
culturais mediante a integração no cristianismo e a encarnação do
cristianismo nas várias culturas humanas».3 A inculturação não debilita
os valores verdadeiros, mas demonstra a sua verdadeira força e a sua
autenticidade, já que eles adaptam-se sem se alterar, antes transformam
pacífica e gradualmente as várias culturas.
Vimos, inclusive através da riqueza da
nossa diversidade, que o desafio que temos pela frente é sempre o mesmo:
anunciar o Evangelho ao homem de hoje, defendendo a família de todos os
ataques ideológicos e individualistas.
E, sem nunca cair no perigo do
relativismo ou de demonizar os outros, procuramos abraçar plena e
corajosamente a bondade e a misericórdia de Deus, que ultrapassa os
nossos cálculos humanos e nada mais quer senão que «todos os homens
sejam salvos» (1 Tim 2, 4), para integrar e viver este Sínodo no
contexto do Ano Extraordinário da Misericórdia que a Igreja está chamada
a viver.
Amados irmãos!
A experiência do Sínodo fez-nos
compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não
são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem;
não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto
não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, das
leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro
Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas
obras, mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua
Misericórdia (cf. Rm 3, 21-30; Sal 129/130; Lc 11, 37-54). Significa
vencer as tentações constantes do irmão mais velho (cf. Lc 15, 25-32) e
dos trabalhadores invejosos (cf. Mt 20, 1-16). Antes, significa
valorizar ainda mais as leis e os mandamentos, criados para o homem e
não vice-versa (cf. Mc 2, 27).
Neste sentido, o necessário
arrependimento, as obras e os esforços humanos ganham um sentido mais
profundo, não como preço da Salvação – que não se pode adquirir –
realizada por Cristo gratuitamente na Cruz, mas como resposta Àquele que
nos amou primeiro e salvou com o preço do seu sangue inocente, quando
ainda éramos pecadores (cf. Rm 5, 6).
O primeiro dever da Igreja não é aplicar
condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à
conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor (cf. Jo 12,
44-50).
Do Beato Paulo VI temos estas palavras
estupendas: «Por conseguinte podemos pensar que cada um dos nossos
pecados ou fugas de Deus acende n’Ele uma chama de amor mais intenso, um
desejo de nos reaver e inserir de novo no seu plano de salvação (...).
Deus, em Cristo, revela-Se infinitamente bom (...). Deus é bom. E não
apenas em Si mesmo; Deus – dizemo-lo chorando – é bom para nós. Ele nos
ama, procura, pensa, conhece, inspira e espera… Ele – se tal se pode
dizer – será feliz no dia em que regressarmos e Lhe dissermos: Senhor,
na vossa bondade, perdoai-me. Vemos, assim, o nosso arrependimento
tornar-se a alegria de Deus».5
Por sua vez São João Paulo II afirmava
que «a Igreja vive uma vida autêntica, quando professa e proclama a
misericórdia, (...) e quando aproxima os homens das fontes da
misericórdia do Salvador das quais ela é depositária e dispensadora».6
Também o Papa Bento XVI disse: «Na
realidade, a misericórdia é o núcleo da mensagem evangélica, é o próprio
nome de Deus (...). Tudo o que a Igreja diz e realiza, manifesta a
misericórdia que Deus sente pelo homem, portanto, por nós. Quando a
Igreja deve reafirmar uma verdade menosprezada, ou um bem traído, fá-lo
sempre estimulada pelo amor misericordioso, para que os homens tenham
vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10, 10)».7
Sob esta luz e graça, neste tempo de
graça que a Igreja viveu dialogando e discutindo sobre a família,
sentimo-nos enriquecidos mutuamente; e muitos de nós experimentaram a
ação do Espírito Santo, que é o verdadeiro protagonista e artífice do
Sínodo. Para todos nós, a palavra «família» já não soa como antes, a
ponto de encontrarmos nela o resumo da sua vocação e o significado de
todo o caminho sinodal.8
Na verdade, para a Igreja, encerrar o
Sínodo significa voltar realmente a 'caminhar juntos" para levar a toda a
parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a
luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!
Obrigado!
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