A
tarefa de construir o bem comum necessita, acima de tudo, de diálogo.
Dialogar qualifica a capacidade humana de se dirigir ao outro, nas
diferenças e nos parâmetros racionais das oposições. Permite também
estabelecer uma relação com a lucidez de discernimentos e escolhas.
Trata-se de prática que não oferece espaço para o ódio, vinganças e o
aproveitamento espúrio de oportunidades para obter ganhos na contramão
do bem comum. A ausência do diálogo permanente, em todas as esferas das
relações humanas, explica o nascimento de descompassos, as mazelas de
escolhas, os absurdos dos procedimentos que comprometem legalidades e
produzem os leitos da corrupção.
Somente pela via do diálogo os muitos
segmentos da sociedade construirão o tecido de uma cultura que sustente
princípios e legalidades. As guerras, os acirramentos partidários, o
recrudescimento da violência, os fundamentalismos - religiosos e
políticos -, as inimizades, as crises familiares, tudo advém de
incompetências humanas na essencial capacidade para dialogar. Uma
qualidade fundamental para se escolher bem, decidir e garantir rumos
adequados. Quando falta a indispensável competência da reciprocidade
conquistada pelo diálogo, as consequências são sempre desastrosas.
Só o diálogo constrói entendimentos que
levam à compreensão das mudanças e transformações tão velozes neste
tempo. A vivência desse exercício mostra a importância da participação
cidadã. Garante lucidez na condução de processos e engradece a alma,
fazendo-a apreciar o que se baseia no altruísmo. Sem a abertura para a
reciprocidade nos exercícios relacionais em diferentes ambientes - do
aconchego da vida familiar aos grupos religiosos, culturais e políticos
-, o que se faz torna-se desserviço. Líderes incapacitados para o
diálogo, particularmente no âmbito da política, são obstáculos nos
funcionamentos da sociedade, prejudicando o bem comum.
O diálogo, longe de ser "conversa
fiada", fofoca, palavras trocadas pelo simples gosto de falar -
especialmente aquele gosto muito comum de se falar dos outros -, é a
construção de entendimentos que dão suporte para a criação e manutenção
do ethos do altruísmo, da seriedade no que se faz e da busca pela
verdade. Promove, assim, a coragem da transparência, em todos os
sentidos e níveis, balizando na honestidade relações e funcionamentos. A
qualidade do diálogo depende muito da visão construída no horizonte dos
cidadãos, para além de paixões partidárias. O exercício do diálogo
alarga a visão de mundo do cidadão, os horizontes dos funcionamentos
institucionais. Permite alcançar a compreensão que anima a indispensável
autoestima, a consciência histórica e a configuração política
merecedora de credibilidade. Nesse sentido, o diálogo é força para fazer
com que a sociedade seja verdadeiramente democrática, capaz de
respeitar e promover, com fecundidade, o bem comum.
Dialogar é o caminho da permanente
construção da vida social, familiar e individual. O diálogo é remédio
para curar irracionalidades, tônico que fortalece entendimentos
cidadãos, intervenção que alarga as estreitezas de interpretações. O
princípio do bem comum é o que deve nortear a sociabilidade, superando,
assim, radicalismos e violências. Para além de qualquer simples
interesse, sobretudo daquele que nasce da idolatria do dinheiro, cada
cidadão tem a tarefa de preservar e de promover esse princípio.
O respeito e a promoção do bem comum são
deveres de todos. Por isso, ecoe em todo canto, e permeie os tecidos da
cultura na sociedade atual, na particularidade do momento vivido na
sociedade brasileira, a autoridade do convite e da recomendação do Papa
Francisco, dirigindo-se aos brasileiros: é preciso investir todas as
forças no diálogo para reconstruções, respeito a legalidades e encontro
das indispensáveis saídas, evitando descompassos que comprometam a
civilidade, a ordem e a justiça. Acima de tudo, os segmentos diversos da
sociedade, para superar mediocridades, partidarismos, radicalismos de
todo tipo, fecundando nova cultura, precisam estar em diálogo pelo bem
comum.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Arcebispo de Belo Horizonte
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