Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Neste domingo, 04 de outubro, dia de São
Francisco, começa em Roma o aguardado sínodo sobre a família. Ele se
prolongará até o dia 25 deste mês. Será seguido de perto, não só pela
Igreja Católica, mas por muita gente que intuiu que este sínodo não se
limitará a aprofundar um assunto, mas servirá de referência para a
definição do pontificado do Papa Francisco.
De fato, vai ficando cada vez mais clara
a estratégia do Papa. Com a realização de dois sínodos, um em seguida
ao outro, as atenções são direcionadas para um assunto que em si mesmo é
importante, mas que sobretudo serve de termômetro para medir a
verdadeira postura da Igreja diante dos problemas que a humanidade vive
hoje.
Neste sentido, a família é a realidade
mais consistente que simboliza a humanidade inteira. Isto permite a
afirmação mais categórica e mais abrangente do mistério salvífico que
somos chamados a professar.
Se a realidade da família representa bem
a complexa existência humana, podemos fazer a grande afirmação que
resume nossa convicção cristã, e nos coloca numa perspectiva ampla e
inesgotável: Deus se compadeceu da família humana, e resolveu redimi-la,
enviando-nos o seu Filho Único, que desencadeou sua ação salvadora
começando por assumir uma família, e se inserindo através dela no
contexto concreto da humanidade.
Assim, se buscássemos uma realidade
representativa de toda a humanidade, não precisaríamos titubear: olhemos
para a família, e nela iremos encontrar os desafios que a trajetória
humana nos apresenta.
Esta prioridade que o Papa Francisco vai
dando à família, não é aleatória. Vai emergindo hoje, em toda a
sociedade, uma salutar preocupação pela situação da família. Talvez por
ver quanto se tornou adverso hoje o ambiente para uma vivência familiar
das pessoas, e quantos atropelos a família precisa enfrentar no contexto
social e cultural de hoje.
Em todo o caso, concordamos facilmente que é dever do Papa sair em defesa da família, como ele vem fazendo de maneira exímia.
O que nem todos concordam é com a
postura que o Papa Francisco propõe para uma ação concreta em defesa das
famílias. Pois a insistência do Papa em abordar a questão familiar, tem
por finalidade encontrar ações concretas que possam servir de apoio à
família em meio aos problemas que hoje ela enfrenta. Sua preocupação,
portanto, é de ordem pastoral. Consiste em encontrar meios concretos de
apoiar as famílias, para fortalecer uma verdadeira “pastoral familiar”.
Neste breve tempo de pontificado, com
seus gestos e suas palavras, o Papa Francisco conseguiu assinalar com
muita clareza uma insistência que já se constituiu na marca definitiva
do seu pontificado. Ele propõe a misericórdia como fonte inspiradora de
toda a atitude da Igreja diante da família, e como inspiração do
relacionamento cotidiano com as pessoas.
Neste sentido, é muito significativa a
decisão do Papa em convocar um “jubileu extraordinário da misericórdia”,
a se iniciar justo no dia em que a Igreja conclui a celebração dos 50
anos do encerramento do Concílio, no dia 08 de dezembro. Como a dizer
que, agora, o caminho concreto para colocar em prática a renovação
eclesial proposta pelo Concílio, será a atitude de misericórdia, pela
qual se torna possível superar os impasses existenciais do convívio
humano.
O Pontificado do Papa Francisco ficará na história com a marca registrada da misericórdia
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